terça-feira, 5 de abril de 2011

Austrália, a muy amiga

O inimigo mora ao lado. Quanto mais se estuda e se investiga sobre os absurdos sofridos por Timor-Leste ao longo da sua história, mais se constata que a Austrália é lobo em pele de cordeiro. Ela tem amigos fortes e o azar é do vizinho de cima. Esta notícia, publicada na semana passada pelo blog Timor Lorosae Nação, apenas confirma o que tanta gente já está careca de saber: vindo da Austrália, todo cuidado é pouco.

Tribunal australiano ordena abertura de documentos sobre invasão indonésia
Paris, 28 mar (Lusa) - O Supremo Tribunal Administrativo australiano decidiu hoje a favor da abertura de documentos secretos sobre a invasão indonésia de Timor-Leste em 1975.
A sentença, de que as autoridades australianas podem ainda recorrer para o Supremo Tribunal Federal, abre caminho à divulgação de 250 linhas de documentos censurados pela Organização Geral de Informação (JIO), antecedente da atual Direção Geral de Informação (DIO).
A decisão conclui uma batalha judicial de quatro anos entre os serviços de informação australianos e o historiador Clinton Fernandes, da Academia das Forças de Defesa Australianas (ADF), especialista na história contemporânea de Timor-Leste e da política da Austrália em relação ao antigo território português.
"A minha expetativa é a de que a informação que vai ser agora revelada, parte de 42 documentos classificados, revele detalhes sobre as operações de desestabilização da Indonésia na fronteira de Timor-Leste, entre outubro e dezembro de 1975, e sobre a conduta das tropas indonésias após a invasão", afirmou hoje Clinton Fernandes, contactado por telefone em Camberra pela Agência Lusa a partir de Paris.
"Os documentos poderão confirmar que o Governo australiano na época conhecia em detalhe os planos da Indonésia em Timor-Leste", acrescentou o historiador australiano.
"O Governo australiano sabia em grande detalhe o que se passava em Timor-Leste mas seguiu a linha de propaganda da Indonésia, na linha de uma guerra entre a Apodeti e a Fretilin, tanto a nível internacional como para consumo interno", sublinhou Clinton Fernandes.
O historiador, professor de relações internacionais na Universidade de Nova Gales do Sul, em Camberra, e autor de diversas obras sobre a invasão e a independência de Timor-Leste, interpôs no final de 2007 um primeiro pedido para ter acesso aos documentos ao abrigo da lei de liberdade de informação na Austrália.
Apesar de terem decorrido os 30 anos previstos na legislação para a abertura dos documentos secretos, o Departamento de Defesa manteve a classificação "reservada" de cerca de 40 "relatórios" e outras informações recolhidas pelos serviços de informação australianos e enviadas para Camberra em 1975.
Clinton Fernandes afirma ter recebido do Departamento de Defesa alguns dos documentos onde apenas com o cabeçalho era legível e tudo o resto estava coberto a negro.
Durante as audiências no Supremo Tribunal Administrativo, algumas das quais decorreram à porta fechada, um dos responsáveis dos Serviços de Informação australianos declarou perante o juiz do processo que os referidos documentos eram "demasiado explícitos" para serem publicados.
Vários responsáveis de alto nível dos serviços de informação e do Departamento de Defesa australiano declararam, ao longo do processo, que a abertura dos referidos relatórios iria "comprometer a segurança nacional".
Na sequência da sentença, e não havendo recurso, o conteúdo dos documentos censurados será tornado público nos próximos dias.

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