segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Farra além mar

Último sábado foi dia de festa. Às nove a What Lafaek começou a tocar para um grupo maravilhoso de amigos brasileiros reunidos no Castaway (boteco de gringos daqui de Dili). Teve até presença ilustre do embaixador do Brasil em Timor Leste, Sr. Edson Monteiro, que, entre os tantos casos da noite, prometeu tirar do armário o saxofone e tocar conosco (lá pelas tantas, nosso embaixador, demonstrando predicado musical até então desconhecido, pegou o violão e ainda agitou uma roda de samba).
O ponto alto da festa foi mesmo dividir o palco com os amigos André e Alexandre, ambos violeiros de primeiro time. Mostramos pra todos aqueles australianos cachaceiros de Brisbane quem manda no pedaço! Música brasileira faz falta demais por essas bandas. O tempo passa voando e uma hora a gente percebe que só escuta cantorias em inglês, bahasa indonésia ou tétum. Aí a saudade aperta mais. Em resumo, a noite de sábado foi certamente uma daquelas para ficar na memória.
Coloquei aqui algumas fotos bacanas, inclusive do Alexandre numa canja que arrebatou corações. Mas vídeo vou ficar devendo. Vários foram gravados, porém hoje, quando fui fazer um upload no you tube, descobri que para transferir um vídeo de 200 megas teria que esperar só 24 horas. Fica pra depois.






domingo, 28 de novembro de 2010

A baía de Dili

Inspiradora fotografia tirada pelo amigo Rogério Firmino. Cara, você e o Alexandre já podem começar a cobrar pelas suas fotos. Valeu!


sábado, 27 de novembro de 2010

Fernando Fiuza

                                                                       Belo Horizonte

Esta pintura e outras mais, junto com fotos, poemas e estórias bacanas podem ser encontradas no blog do Fernando, chamado Arte Fernando Fiuza.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rezando em Bali

Depois que a Julia Roberts gravou Comer, rezar, amar (filme água com açúcar baseado no best seller de Elizabeth Gilbert – e aproveito para protestar contra o brasileiro de araque que arrumaram, sendo que bastava uma ligadinha para o José Mayer), a rota aérea para Bali experimentou inusitado congestionamento. Não que a pequena ilha indonésia tivesse caído no esquecimento dos alemães, russos, australianos e ingleses, mas agora o turismo explodiu. Sorte do velhindo desdentado metido a guru que aparece no filme. Deve estar distribuindo senha para atendimentos e cobrando milhões de rupias por quinze minutos de papo furado (já expliquei aqui no blog que até defensor público mineiro consegue virar milionário em Bali).
Interessante que o povo balinês, hinduísta em sua maioria, não conserva suas liturgias (apenas) para impressionar turista. Eles realmente colocam, todo santo dia, flores, incenso e biscoitos (oferendas malcheirosas, vistas até em painéis de automóveis) em pequenos altares, espalhados pelas ruas. Claro que a personagem da Julia Roberts, vale lembrar, não perde tanto tempo rezando em Bali. Parte logo para atividades menos enfadonhas, acompanhada do Javier Barden, seu amigo colorido.
Eu e a Alice estivemos há algumas semanas por lá e aproveitamos para conferir os famosos arrozais em nível (curiosamente mais divulgados que as próprias praias de Bali) e os templos tradicionais. Bonitos, mas nem de perto suntuosos como os de Bangkok.





quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Beto Guedes na TV Manchete

Companheiro do Flávio Venturini, Milton Nascimento e Fernando Brant no Clube da Esquina, Beto Guedes é uma grande figura. Querido por muitos pela sua participação no 14 bis (grupo musical de Belo Horizonte) e por várias composições de sucesso. Achei no You Tube outra pérola: uma entrevista do músico feita na década de 80 pela antiga Rede Manchete. Não sei se ele tinha bebido antes da conversa. Fato é que não fui capaz de entender patavina do que ele disse ou quis dizer. Peça raríssima.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Situação crítica

Dois casos recentes acontecidos no tribunal de Dili merecem postagem neste blog. Amanhã posso querer ler as coisas que registrei para lembrar com clareza de tudo que vi neste país tão diferente.
O primeiro caso tratava de um crime de ofensas corporais (nossas lesões corporais) praticadas por marido contra mulher. O sujeito encheu a esposa de bofetadas no meio de um mercado famoso da capital. O sogro, testemunha do fato, foi chamado para depor. Indagado pelo juiz sobre o ocorrido, respondeu: meritíssimo, eu vi o Fulano bater na esposa sim. Deu tanto tapa na cabeça que ela caiu de joelhos. Mas o absurdo, seu juiz, é que ele bateu na minha filha em público! (nessa hora, o oficial de justiça acordou e ficou olhando com ar intrigado). O juiz então perguntou: como assim? E o sogro: o negócio é o seguinte, meritíssimo. Mulher a gente bate em casa. Na rua fica ruim pra família.
O crime contra mulheres aconteceu num distrito próximo de Dili, nas montanhas. Duas velhinhas, paupérrimas vendedoras de frutas, foram subitamente taxadas de bruxas pela vizinhança (aqui existe isso de bruxa voadora e perigosa, casa sagrada que ninguém chega perto, ninja assassino e molestador de criancinhas). Outras pessoas idosas teriam adoecido por culpa das velhinhas. Um grupo de moradores do bairro se reuniu, encheu a cara com tua sabo (um destilado local) e decidiu eliminar as indesejáveis feiticeiras. Armados com martelos e catanas (facões), chegaram de madrugada e feriram gravemente as duas mulheres. Supondo morte certa, foram embora. No dia seguinte, descobriu-se que as vítimas tinham sobrevivido à brutalidade. Um mês depois, os vizinhos, certos de que se não concluíssem o trabalho sua casa seria amaldiçoada para sempre, retornaram e liquidaram a catanadas as duas senhoras. Queimaram os corpos e, não satisfeitos, os enterraram de ponta cabeça. Afinal com bruxa não se brinca. Se elas revivessem, cavariam pra baixo.
Um verdadeiro filme de terror.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dia da ONU

No dia 24 de outubro a ONU comemorou 65 anos de existência através de um evento que aconteceu na frente do Palácio do Governo em Dili. Marcaram presença no UN Day autoridades locais, incluindo o Presidente da República de Timor Leste, José Ramos Horta, representantes das Nações Unidas e, como não poderia deixar de ser, a querida banda What Lafaek (com sua formação ultra eclética). Nosso repertório, que estava com jeito de mexido do Chopp da Fábrica, agradou não somente o alto clero da ONU (a missão daqui chama-se UNMIT - United Nations Integrated Mission in Timor-Leste), mas também nossos amigos e os inúmeros timorenses presentes no local. Se dependesse de mim, tocávamos pelo menos uma música brasileira, mas como sou voto vencido e a vocalista é uma espanhola de sangue quente (e estopim curto), achei melhor não discutir. Coloco aqui duas fotos da banda no ensaio e outras tiradas no evento (a definição não é das melhores, mas paciência). Antes que eu me esqueça, coloco também um comentário elogioso do Sr. Finn Reske-Nielsen, alto representante da ONU em Timor Leste (dirigido à nossa vocalista).

Dear Maria,
I sincerely wish to thank you for having performed with great professionalism and success for the UN Day official event. Everyone gathered on Sunday by the Palacio do Governo, including myself, really enjoyed your entertaining music and were impressed with your great talent! Please convey my gratitude also to the other members of your band.
With best regards,
Finn







sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Stanley Kubrick e a obra prima do medo

Baseado na obra homônima de Stephen King, O Iluminado (The shining), dirigido por Stanley Kubrick em 1980, é um daqueles filmes difíceis de esquecer. Simplesmente porque se trata, provavelmente, do longa metragem mais assustador de todos os tempos. Caso raro em que a obra cinematográfica supera a literária em diversão e qualidade. Lembro que o livro, publicado no ano de 1977, está longe de ser classificado como literatura de primeira linha (aliás tenho cá minhas dúvidas se existe livro do Stephen King digno de ser levado a sério). Mérito, portanto, do diretor genial e perfeccionista.
Jack Nicholson, o protagonista, atua no papel de um escritor atormentado que vai morar num hotel com sua esposa e filho, em completo isolamento. Aos poucos, a família se deteriora e o pai revela-se um doido varrido, envolvido em  episódios sobrenaturais que, tal como são exibidos, levam o próprio expectador a indagar se tudo não passa de delírio dos personagens. Seu filho, um menino solitário com habilidade paranormal (vivido pelo precoce ator Danny Lloyd - hoje um recluso professor de biologia), é pra lá de esquisito (conversa com o seu dedo boa parte do filme) e tem contatos frequentes com almas penadas.
A trama se desenvolve lentamente (motivo de críticas negativas na época do lançamento), mas  Kubrick cria um ambiente surreal cuja tensão aumenta até ficar quase insuportável. Isso sem mostrar muito para o expectador. E o mérito dos bons filmes de terror é justamente esse: deixar o pior para a imaginação do público.
Assisti O iluminado quando tinha uns 8 ou 9 anos de idade. Até hoje penso na cena das meninas no corredor do hotel (ver o vídeo abaixo) e na mulher da banheira, nua dentro do proibido quarto 237. Sinistro demais!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Brâzil da Dilma Ráussef

A amiga Beatriz Vargas do blog Na sombra da mangueira me mandou hoje um vídeo engraçadíssimo do Marcelo Adnet, que merece postagem aqui. Como sempre, a sua sátira toca diretamente no ponto. Beatriz, obrigado!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Curiosidades indonésias

Penso que todas as esquisitices de um povo devem ser toleradas pelo estrangeiro. Os brasileiros, aos olhos do sueco, são criaturas de outro planeta. Mas como vivo ao lado dos indonésios (e por eles não morro de amores), não resisto à tentação de revelar aqui alguns hábitos que, numa primeira análise, são no mínimo peculiares. E não digo isso só porque na Indonésia o pessoal adora um viralatinha ensopado, frito ou assado. A situação deles envolve pouca preocupação com higiene e saúde. Ressalto que os (quase) 25 anos de ocupação de Timor Leste transferiram para os timorenses a maioria dos costumes do vizinho, infelizmente.
Em primeiro lugar, indonésio não é chegado em banho, mesmo vivendo num clima tropical úmido. Também pudera: a limpeza do corpo é feita na base da canequinha (seja a pessoa rica ou pobre). Os banheiros, sem pia, têm um recipiente para armazenar a água e o sujeito pega a caneca, limpa do jeito que dá e fica por isso mesmo (para demonstração, tirei foto do banheiro de um restaurante em Atambua). Alguém poderia dizer que os franceses também não gostam de tomar banho. Fato é que na Europa a água é caríssima e o clima completamente diferente.
Outro detalhe do banheiro indonésio: não tem vaso sanitário. Se eu morasse lá, estaria frito, porque adoro ler um livrinho no trono. A privada é no chão (um buraco apenas). E a descarga? Não existe. Usa-se a boa e velha canequinha para empurrar o que for possível. Bebê de Rosemary que não desce, fica por lá dias ou semanas. Conheci até uma médica alemã que foi para a Indonésia com um único objetivo: ensinar os indonésios a rolar bosta. Que dureza! Hilária uma propaganda do Pato Purific (ou Harpic) que assisti em Bali. Idêntica à propaganda brasileira, só que a dona de casa lambreca o produto nas beiradas da latrina, ao invés do vaso sanitário. E depois a titia indonésia vem com a caneca e, como se estivesse dando descarga, despeja a água por cima.
Fugindo do assunto banheiro, frequentemente vemos pessoas com horrorosas unhas longas, daquelas de fazer inveja no Zé do Caixão. Fui investigar sobre isso e apurei que eles pensam assim: unha grande (e quase sempre suja) é sinal de status porque isso significa que aquela pessoa não realiza trabalho braçal. Quem tem unha grande na Indonésia, portanto, não pega na enxada...
Lembro ainda que por lá come-se com a mão (vi isso em restaurantes), arrota-se em qualquer lugar público (principalmente em aviões), enterra-se parente no quintal da casa (ver fotografias abaixo), usam-se roupas de frio, mesmo sob calor infernal e, por último, a mesma camisa, camiseta ou moleton usado na segunda-feira pode ser reutilizado até domingo. Haja Omo e danem-se os asseados!




domingo, 14 de novembro de 2010

sábado, 13 de novembro de 2010

Ilha de Flores e vulcão Kelimutu

Saímos de Kupang no dia 30 de outubro e rumamos para a Ilha de Flores num fokker 100 da Merpati (um daqueles jatinhos banidos da aviação aérea brasileira por aresentar defeitos mecânicos incorrigíveis). O vôo curto, de 45 minutos, foi feito no último assento, ao lado da turbina, porque com essas empresas de baixo custo da Ásia é assim: faz check in por último, o azar é seu. Vai na última poltrona, pegando o boi por não viajar em pé. E para tornar nossa viagem ainda mais agradável, o amigo Vinícius ainda dividiu conosco uma generosa porção de carne seca adocicada (tão seca que parece biscoito), iguaria vendida em Timor Leste.
Flores é maravilhosa. Conhecê-la valeu todas as horas passadas na mikrolet, banho de caneca e tudo mais já relatado à exaustão neste blog. Povo bacana, montanhas, vulcões, densa vegetacão, plantações de arroz em nível e praias paradisíacas (a grande maioria da população, fisicamente idêntica à população de Timor Leste, professa a religião católica, por influência dos colonizadores portugueses, que cederam a ilha para os holandeses no século 19). E um grande alento: não vi militares nas ruas.
Interessante que a lindíssima ilha, um lugar bem menos procurado (e conhecido) que a vizinha Bali, acaba sendo apenas um ponto de passagem para as pessoas que querem chegar até a ilha de Komodo, habitat do famoso dragão babento de boca suja.
No dia seguinte, às 5 da manhã, saímos do hotel para conhecer a maior atração de Flores: o vulcão Kelimutu, com seus lagos coloridos que mudam de cor conforme a época do ano. Cruzamos 120 kilômetros em direção ao distrito de Ende, no centro da ilha e chegamos cedo demais. Na entrada do Parque Nacional Kelimutu pegamos chuva e neblina e passamos um frio danado. Por livre e espontânea pressão compramos uma roupa local, com preço devidamente reajustado para estrangeiros, parecida com um vestido (um tubinho recomendado para uso em festas a fantasia). 
Lá pelas 10 da manhã, o céu abriu a pudemos ver todos os lagos coloridos. Esse lugar deveria constar naqueles guias de viagens que indicam os 1001 lugares que as pessoas devem ver antes de morrer. As crateras são fundas e bem amplas e os lagos no interior, coloridos provavelmente pelo enxofre, são verdes, com listras amarelas (um terceiro lago é preto). Ao redor, precipícios e mata fechada. O conjunto oferece uma paisagem surreal, dando a impressão de que estamos em outro planeta. Pena que Flores é tão longe do Brasil.











quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pequeno grande baterista

Ontem mandei um recado para a minha afilhada gatinha e penso que é o momento de falar um pouco do pequeno rapaz que vi nascer há um ano e pouco atrás. Peço licença aos pais do João Gabriel para colocar umas fotos dele no blog e mostrar pro pessoal, inclusive daqui de Timor Leste, como eu sou um padrinho sortudo.
O João, com essa carinha de australiano namorador, nasceu careca. E eu estava presente, meio desorientado, sem saber se abraçava o avô chorão ou se chorava junto. Num piscar de olhos, ficou loiro (a mamãe, ninguém suspeitava, era menina loirinha também!) e virou baterista autodidata. Recebi um vídeo há poucos dias no qual ele aparece ensinando movimentos técnicos percussivos de altíssima complexidade, dignos de causar inveja no Phil Collins. Como é que pode? 
Resta agora trabalhar incessantemente (afinal de contas precisamos aproveitar que o JG é artista nato) para afastar a influência do mundo musical de segunda categoria, o pop barato. Bastam pequenas doses diárias de rock`n roll para assegurar um futuro saudável.
Fê e Thiago, obrigado pela confiança que sempre recebemos de vocês e pelo privilégio de estarmos juntos do João. Por aqui a saudade aperta cada dia mais.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O maior presente de todos

Eu estava aqui me preparando para escrever um post sobre a Ilha de Flores, mas desisti depois de abrir a caixa de email. Recebi as fotos mais inacreditáveis da nossa afilhada Luiza, pessoinha querida que ainda não pudemos conhecer pessoalmente.
Luiza, um dia eu vou poder te contar como você foi esperada e como ficamos aqui, literalmente do outro lado do mundo, contando os dias para te abraçar e te ver, ao vivo e a cores. Quem já te viu, eu sei, não te esquece. E nós, que acompanhamos só por fotografia (intra e extra uterina) o seu crescimento, sabemos que quando voltarmos para casa, você vai estar ainda mais linda do que é hoje. Impressionante como outro dia você era uma bolinha fofa de gente, sentada  no sofá vigiada de perto pela Morena (essa foto, aliás, está na área de trabalho do meu computador). E pode ter certeza: não faltam corujas e corujões ao redor! Soube que recentemente  até presente de Portugal você ganhou. Menina chique! Digo mesmo que ninguém te esquece. Nós aqui em Timor Leste, rigorosamente todo dia, nos perguntamos: como estará a Luiza? Mais gostosa, isso é certo. E a mãe mais derretida. Ela merece afinal. Todos merecemos estar com você. Um forte beijo nessas bochechas branquelas e já adianto que seu pai vai ter trabalho redobrado num futuro não muito distante para conter os rapazes mais atrevidos. Sugiro ao Rogério aplicação de prova oral no sofá da sala.


domingo, 7 de novembro de 2010

A sofisticação de Kupang

Quando um timorense quer fazer compras ou viajar para Jacarta, ele vai até Kupang. Situada no extremo oeste da Ilha do Timor, essa badalada (??) cidade indonésia é um fim de mundo onde Judas perdeu as botas (ou talvez as meias). É, contudo, um ponto de saída importante para quem quer economizar. E não existe vôo direto entre Dili e Kupang. Portanto, o jeito é encarar uma mikrolet (van de onze passageiros) por doze horas. Taí a viagem mais (mal) falada entre os brasileiros aqui em Timor Leste. Quem foi não dá indícios de querer repetir a dose. E para quem ainda não se aventurou, sobram conselhos negativos. Mas esse pessoal que prefere Sidney a Kupang não escolheu a companhia certa para viajar, tenho certeza!
A viagem até Kupang é dividida em duas etapas: a primeira até a fronteira com a Indonésia. São quatro horas numa van timorense. As estradas são péssimas. Muito buraco, curva e ribanceira. Do outro lado, a parte mais complicada, feita num carro indonésio, com um sujeito que nem arranha aquele velhíssimo the book is on the table. A custosa comunicação foi feita na base da mímica e com ajuda de outros passageiros de boa vontade. Dali são oito horas até o destino final. Mais curvas, calor, fome e um pouco de enjôo.
Entre uma e outra mikrolet, um momento inesquecível: cruzamos a fronteira ANDANDO debaixo de um sol de rachar, com mala na mão. Encontramos umas figuras indonésias bem simpáticas, a exemplo da velhinha que aparece na foto comigo e com a Alice, fazendo pose e soltando umas palavras em tétum.
Meia hora depois, paramos em Atambua (caramba, que lugar feio!) para almoço e aí eu lembrei da minha mãe, que tem um pouco mais de prudência que o filho na hora de comer um prato de comida. As apetitosas iguarias indonésias eram: arroz completamente sem tempero, pescoço, moela e partes não identificáveis de frango, cogumelos recheados (penso que foi isso que comi) e pepino. A técnica é comer rápido e não ficar pensando muito. Matamos a fome e seguimos adiante.
Pontualmente chegamos (com a bunda quadrada e um leve desgaste psicológico) às oito da noite em Kupang. Como o hotel inicialmente apresentado não oferecia ar condicionado e ficava longe do KFC (certamente o ponto mais aprazível da cidade), fomos nos alojar no sofisticado Flobamor (amigos, me corrijam se o nome for outro). Sobre detalhes do nosso banho indonésio com caneca e do "pequeno almoço" (nome dado ao café da manhã pelos portugueses), deixo para o próximo post. Em matéria de diversão e de experiências pitorescas, essa viagem bateu recorde. Pra quê pensar em Paris, Barcelona ou Sidney? Isso é programa para frescos. Legal é viajar pra KUPANG!




Atambua

Kupang

Caçadores de Bintang num ponto de venda suspeito de Kupang

Brasileiros perdidos em Kupang

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Led Zeppelin

Passados quase quinze anos desde que comecei a tocar bateria, ainda custo a acreditar nas músicas que o Led tocava. Não vi ainda um baterista como o John Bonham, sujeito que conseguia "tocar o intocável", dividindo o compasso como queria, na maioria das vezes no contratempo. E para matar a saudade do Led Zeppelin, de quem não se houve falar nestas bandas, infelizmente, trouxe uma música de abertura dos shows da banda, no ano de 1970. We're gonna groove deveria ter sido incluída no álbum Led Zeppelin II, de 1969, mas acabou fazendo parte do Coda, de 82. Parece que a gravação que existe nesse disco é a mesma extraída do show no Royal Albert Hall, em 1970.

Ponto de vista


Saímos de Dili no dia 29 de outubro, aproveitando o feriado prolongado de finados, para conhecer lugares menos populares da Indonésia (cruzamos por terra a fronteira com o lado oeste da ilha de Timor, fomos a Kupang e de lá voamos para a Ilha de Flores, cuja população é quase inteiramente católica). O interessante de rodar doze horas numa van (chamada aqui de mikrolet) por estradas sinuosas e esburacadas, comer pescoço de galinha com arroz sem gosto e moela dura e tomar banho de caneca é ter a chance de conhecer a realidade de um país (glamurizado por conta de surfistas australianos).
O povo indonésio que vimos é fisicamente idêntico ao timorense. E a miséria também é parecida. Depois de ver aquela quantidade de gente paupérrima, pedintes e mendigos, me dei conta de que minha antipatia pelo indonésio é injusta. Deveria ser canalizada para o exército daquele país, que é imenso, tem autonomia e esmaga a liberdade de expressão. Basta uma volta rápida pela Indonésia (não me refiro a Bali, evidentemente, porque essa ilha não representa a realidade social e econômica do resto do arquipélago, já que a miséria dos habitantes é camuflada) para notar o indisfarçável ar de intimidação que emana dos órgãos de segurança. Cruzamos a fronteira do Timor Oeste a pé, carregando mala. Mostramos nossos documentos quatros vezes, duas de um lado, duas do outro. Sempre sob o olhar atento de um guarda armado.
Em Bali, conversando com um simpático taxista (coincidentemente nascido em Flores), não pudemos deixar de notar que quando ele se referiu ao Timor Leste e ao período de ocupação indonésia, as palavras usadas foram: "nos anos em que Timor SE ANEXOU à Indonésia (...)", como se a iniciativa tivesse sido do povo timorense, quase um mal agradecido por não querer manter-se anexado ao vizinho poderoso. Invasão, ocupação ou anexação, tudo é questão de ponto de vista.