sexta-feira, 13 de maio de 2011

Timor-Leste entre a cruz e a espada

No primeiro semestre de 2006, Timor-Leste sofreu grave crise institucional, cujas sequelas são até hoje perceptíveis. Travaram-se conflitos armados entre grupos vindos da região leste (os lorosae) e da região oeste do país (os loromono), sendo que entre eles existia (e provavelmente ainda existe) forte divergência ideológica.
A guerra civil, além de levar à morte de dezenas de pessoas e à destruição de prédios e veículos, culminou na queda de Mari Alkatiri, naquela altura Primeiro Ministro de Timor-Leste.
É difícil negar que a instabilidade política de Timor foi ao encontro dos interesses da Austrália.
Proporcionou, de um lado, a saída do governo de um líder hostil a qualquer tentativa australiana de abocanhar o petróleo e o gás timorense e ligado à Fretilin, partido hegemônico com viés esquerdista.
E o caos forçou, ainda, o pedido timorense de envio de tropas militares australianas para conter a violência, fato que implicou enfraquecimento da soberania do Estado socorrido.
Em 2006, a jornalista independente australiana Maryann Keady escreveu o artigo intitulado “Timor Leste: Uma Nova Guerra Fria” (para ler o texto na íntegra, em inglês, clique aqui), no qual elenca os interesses primordiais de potências como EUA, Austrália e China e demonstra como é factível desestabilizar um país para, posteriormente, submetê-lo aos interesses econômicos internacionais. Eis alguns trechos interessantes do artigo:    
“No momento, são as rotas marítimas e as reservas de gás e petróleo em torno de Timor Leste que preocupam a Austrália, assim como a entrada de um jogador regional: a China. E uma "Nova Guerra Fria" é exatamente o que surgiu.

Timor Leste é um dos países da região apanhados no fogo cruzado entre dois poderosos competidores estratégicos: China e os EUA.
Infelizmente, Timor- Leste está na vizinhança de algumas das rotas marítimas mais relevantes do Pacífico, notadamente o Estreito de Ombei Wetar, uma depressão de águas profundas entre os Oceanos Índico e Pacífico, importante para a passagem de submarinos e que será um ponto de estrangulamento marítimo em qualquer conflito futuro.

Políticos e comentaristas de todos os lados têm sido sinceros acerca do que vêem como dilemas de Timor Leste ao tentar equilibrar as duas nações gigantes.
A partir da mudança rápida de fidelidade da China para Taiwan em Kiribati, até à ameaça dos cidadãos de etnia chinesa durante os tumultos de Abril em Honiara, o "fator China" está provocando o caos em toda a região. Os habitantes locais receiam que as potências hegemônicas regionais - China, EUA e Austrália - desempenhem um papel maior nesta instabilidade do que qualquer instabilidade civil orgânica.
Muito tem sido dito na imprensa australiana sobre o papel das divisões étnicas entre o leste e oeste de Timor Leste na origem da violência, divisão esta muito conveniente se você quiser usar o caos civil como um pretexto para o envio de forças militares e, assim sendo, manter o país sob sua esfera de influência.
Mas pouco se ouviu falar porque é que, pela terceira vez, as forças internacionais não conseguiram evitar que o povo de Timor Leste fosse aterrorizado por uma terceira parte. Primeiro, houve o ataque indonésio em 1999. Depois, a instabilidade de 4 de dezembro de 2002 (que levou a imprensa Australiana a pressionar Alkatiri para se demitir, imediatamente antes das negociações sobre petróleo e gás). E agora, o caos civil de 2006.
A grande questão é, naturalmente, se a Austrália permite que Timor Leste se perca na anarquia, ao estilo das ilhas Salomão, possibilitando assim que suas tropas sejam depois destacadas para este local estratégico.
Se a situação atual de Timor Leste faz parte das políticas da Nova Guerra Fria, então os povos da Ásia-Pacífico têm muito a recear - e Camberra tem muito para responder.”
A Austrália é mesmo muy amiga dos timorenses. E se não fosse pelos esforços de Mari Alkatiri, o petróleo timorense teria ido para as calendas. Para Camberra, melhor dizendo.

2 comentários:

  1. Timor Leste é um novo país, sempre que um país invasor surge no horizonte do poder coercitivo de grupos dominantes, quem perde é o povo, também quem paga a conta é sempre os mais lascados na vida.

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  2. As guerras sempre foi feito para agradar os gurus do poder particular, quantas guerras se construiu no mundo até hoje, percebemos que ambição humana sempre pregou a intolerância entre os grupos.Será que às guerras resolveram os problemas das nações?

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