terça-feira, 29 de março de 2011

Passeio de táxi por Hanói

Saindo de Old Quarter em direção ao mausoléu de Ho Chi Minh, com direito a trilha sonora vietnamita.

Bangcoc - parte 4

Alguns poderiam dizer que Bangcoc é a cidade das mulheres (des)honestas (lembrando o velho conceito de 'mulher honesta' apresentado pelo penalista Nelson Hungria, segundo o qual é "não somente aquela cuja conduta, sob o ponto de vista da moral, é irrepreensível, senão também aquela que ainda não rompeu com o minimum de decência exigido pelos bons costumes").
Outros lembrariam imediatamente dos incontáveis maridos que deixam suas esposas na Austrália, na Inglaterra ou em outro país qualquer para conhecer no sentido bíblico as meninas tailandesas.
Há ainda as pessoas de paladar apurado que certamente diriam que a capital do Reino da Tailândia não passa de uma gigantesca feira de comida suspeita. Aquela que provoca múltiplas reações intestinais nos bravos que se aventuram a prová-la.
Deixando de lado estereótipos femininos que hoje não têm mais razão de existir, as carícias compradas dos australianos e levando-se em conta a gastronomia tailandesa espetacular, Bangcoc é a cidade mais divertida que conheço. Aliás, a segunda mais divertida, depois de Belo Horizonte.
É claro que, sendo uma metrópole de terceiro mundo cuja população ultrapassa os 10 milhões de habitantes, tem seus problemas. E a pobreza é, aparentemente, o pior deles. Mas, apesar das veementes opiniões contrárias, conhecê-la foi para mim uma experiência fascinante.
De um lado, o trânsito louco, a barganha – o que se oferece por 10 compra-se por 1 – e os taxistas pilantras, que não ligam o taxímetro nem debaixo de porrete. Do outro, templos de cair o queixo, transporte público de primeira e um povo cordial.
Como eu já disse aqui no blog, Bangcoc tem buda para todos os gostos: sentado, deitado, reclinado, dourado, de esmeralda e por aí segue. Palácios grandiosos, feiras de antiguidades e artesanato. Quem se interessa por bugingangas, assim como eu, delira com a mistura.
A única contraindicação vai para o infame 'show de ping pong' de Bangcoc. Nele, mulheres sobem ao palco e, usando da técnica de pompoarismo, atiram bolinhas no espectador, munido com uma pequena raquete. Cilada para o turista incauto.







domingo, 27 de março de 2011

Allan Sieber


Este e outros cartuns podem ser encontrados no site do Allan Sieber, allansieber/cartuns.

Roger Waters e o boicote cultural a Israel


Notícia veiculada no dia 24 de março pelo site http://www.esquerda.net/

Fundador da banda Pink Floyd junta-se à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel e apela aos colegas da indústria da música e a artistas de outras áreas para que adiram também.

"Onde os governos se recusam a actuar, as pessoas devem fazê-lo, com os meios pacíficos que tiverem à sua disposição", diz Waters.
O fundador, vocalista e baixista da banda Pink Floyd, cuja música "Another Brick in the Wall Part 2" serviu de hino da juventude negra sul-africana contra o apartheid e, mais tarde, foi também cantada por jovens palestinianos contra o muro que Israel construiu nos territórios ocupados, anunciou este domingo a sua adesão ao boicote cultural contra Israel.
Waters apelou aos colegas da indústria da música e a artistas de outras áreas para aderirem à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, até que termine a ocupação e a colonização de todas as terras árabes e o muro seja desmantelado; sejam reconhecidos os direitos fundamentais dos cidadãos árabo-palestinianos de Israel em plena igualdade; e sejam respeitados, protegidos e promovidos os direitos dos refugiados palestinianos de regressar às suas casas e propriedades, como estipulado na resolução 194 das NU.

Leia na íntegra a carta aberta divulgada pelo músico britânico.

Carta aberta de Roger Waters

Em 1980, uma canção que escrevi, "Another Brick in the Wall Part 2", foi proibida pelo governo da África do Sul porque estava a ser usada por crianças negras sul-africanas para reivindicar o seu direito a uma educação igual. Esse governo de apartheid impôs um bloqueio cultural, por assim dizer, sobre algumas canções, incluindo a minha.
Vinte e cinco anos mais tarde, em 2005, crianças palestinianas que participavam num festival na Cisjordânia usaram a canção para protestar contra o muro do apartheid israelita. Elas cantavam: “Não precisamos da ocupação! Não precisamos do muro racista!” Nessa altura, eu não tinha ainda visto com os meus olhos aquilo sobre o que elas estavam a cantar.
Um ano mais tarde, em 2006, fui contratado para actuar em Telavive.
Palestinianos do movimento de boicote académico e cultural a Israel exortaram-me a reconsiderar. Eu já me tinha manifestado contra o muro, mas não tinha a certeza de que um boicote cultural fosse a via certa. Os defensores palestinianos de um boicote pediram-me que visitasse o território palestiniano ocupado para ver o muro com os meus olhos antes de tomar uma decisão. Eu concordei.
Sob a protecção das Nações Unidas, visitei Jerusalém e Belém. Nada podia ter-me preparado para aquilo que vi nesse dia. O muro é um edifício revoltante. Ele é policiado por jovens soldados israelitas que me trataram, observador casual de um outro mundo, com uma agressão cheia de desprezo. Se foi assim comigo, um estrangeiro, imaginem o que deve ser com os palestinianos, com os subproletários, com os portadores de autorizações. Soube então que a minha consciência não me permitiria afastar-me desse muro, do destino dos palestinianos que conheci, pessoas cujas vidas são esmagadas diariamente de mil e uma maneiras pela ocupação de Israel. Em solidariedade, e de alguma forma por impotência, escrevi no muro, naquele dia: “Não precisamos do controlo das ideias”.
Tomando nesse momento consciência que a minha presença num palco de Telavive iria legitimar involuntariamente a opressão que estava a testemunhar, cancelei o concerto no estádio de futebol de Telavive e mudei-o para Neve Shalom, uma comunidade agrícola dedicada a criar pintainhos e também, admiravelmente, à cooperação entre pessoas de crenças diferentes, onde muçulmanos, cristãos e judeus vivem e trabalham lado a lado em harmonia.
Contra todas as expectativas, ele tornou-se no maior evento musical da curta história de Israel. 60.000 fãs lutaram contra engarrafamentos de trânsito para assistir. Foi extraordinariamente comovente para mim e para a minha banda e, no fim do concerto, fui levado a exortar os jovens que ali estavam agrupados a exigirem ao seu governo que tentasse chegar à paz com os seus vizinhos e que respeitasse os direitos civis dos palestinianos que vivem em Israel.
Infelizmente, nos anos que se seguiram, o governo israelita não fez nenhuma tentativa para implementar legislação que garanta aos árabes israelitas direitos civis iguais aos que têm os judeus israelitas, e o muro cresceu, inexoravelmente, anexando cada vez mais da faixa ocidental.
Aprendi nesse dia de 2006 em Belém alguma coisa do que significa viver sob ocupação, encarcerado por trás de um muro. Significa que um agricultor palestiniano tem de ver oliveiras centenárias ser arrancadas. Significa que um estudante palestiniano não pode ir para a escola porque o checkpoint está fechado. Significa que uma mulher pode dar à luz num carro, porque o soldado não a deixará passar até ao hospital que está a dez minutos de estrada. Significa que um artista palestiniano não pode viajar ao estrangeiro para exibir o seu trabalho ou para mostrar um filme num festival internacional.
Para a população de Gaza, fechada numa prisão virtual por trás do muro do bloqueio ilegal de Israel, significa outra série de injustiças. Significa que as crianças vão para a cama com fome, muitas delas malnutridas cronicamente. Significa que pais e mães, impedidos de trabalhar numa economia dizimada, não têm meios de sustentar as suas famílias. Significa que estudantes universitários com bolsas para estudar no estrangeiro têm de ver uma oportunidade escapar porque não são autorizados a viajar.
Na minha opinião, o controlo repugnante e draconiano que Israel exerce sobre os palestinianos de Gaza cercados e os palestinianos da Cisjordânia ocupada (incluindo Jerusalém oriental), assim como a sua negação dos direitos dos refugiados de regressar às suas casas em Israel, exige que as pessoas com sentido de justiça em todo o mundo apoiem os palestinianos na sua resistência civil, não violenta.
Onde os governos se recusam a actuar, as pessoas devem fazê-lo, com os meios pacíficos que tiverem à sua disposição. Para alguns, isto significou juntar-se à Marcha da Liberdade de Gaza; para outros, juntar-se à flotilha humanitária que tentou levar até Gaza a muito necessitada ajuda humanitária.
Para mim, isso significa declarar a minha intenção de me manter solidário, não só com o povo da Palestina, mas também com os muitos milhares de israelitas que discordam das políticas racistas e coloniais dos seus governos, juntando-me à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, até que este satisfaça três direitos humanos básicos exigidos na lei internacional.
1. Pondo fim à ocupação e à colonização de todas as terras árabes [ocupadas desde 1967] e desmantelando o muro;
2. Reconhecendo os direitos fundamentais dos cidadãos árabo-palestinianos de Israel em plena igualdade; e
3. Respeitando, protegendo e promovendo os direitos dos refugiados palestinianos de regressar às suas casas e propriedades como estipulado na resolução 194 das NU.
A minha convicção nasceu da ideia de que todas as pessoas merecem direitos humanos básicos. A minha posição não é anti-semita. Isto não é um ataque ao povo de Israel. Isto é, no entanto, um apelo aos meus colegas da indústria da música e também a artistas de outras áreas para que se juntem ao boicote cultural.
Os artistas tiveram razão de recusar-se a actuar na estação de Sun City na África do Sul até que o apartheid caísse e que brancos e negros gozassem dos mesmos direitos. E nós temos razão de recusar actuar em Israel até que venha o dia e esse dia virá seguramente em que o muro da ocupação caia e os palestinianos vivam ao lado dos israelitas em paz, liberdade, justiça e dignidade, que todos eles merecem.
Tradução do Comité Palestina.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Tudo que cabe na calça de um aluno

Hanói - parte 2

Na capital da República Socialista do Vietnam não há metrô e ele não faz falta. Bater perna pela cidade é facílimo (atravessar as ruas nem tanto) e, na dúvida, basta mostrar o mapa para uma pessoa qualquer.
A simpatia e a cordialidade dos vietnamitas é outro detalhe digno de menção. Este é o povo mais receptivo que conheci na Ásia (uma estadia rápida no Vietnam é suficiente para esquecer dos indonésios).
Minha primeira visita a um país de segundo mundo (se ainda for possível invocar a teoria dos mundos) foi surpreendente. Em primeiro lugar, nenhum habitante local parece dar a mínima para guerras passadas. Notei, contudo, em lugares específicos, certa exaltação do regime socialista (o que é plenamente compreensível) e demonstração de orgulho pela vitória vietnamita sobre os franceses na década de 1950 e sobre os americanos na década de 1970 (o museu do exército, atração imperdível, está repleto de aviões, helicópteros, veículos terrestres apreendidos dos americanos e escombros. Muitos escombros).
Parte da cidade lembra uma enorme feira. E ao lado das lojas tradicionais estão instaladas famosas grifes internacionais. Aproveitei e comi uma coxa de frango no KFC, o inconfundível Kentucky Fried Chicken. Quem poderia imaginar tanta abertura num país dito socialista?
Estando em Hanói é impossível não lembrar de Belo Horizonte, capital mundial dos botecos. É costume dos moradores da cidade se reunirem para comer, beber e bater papo nas calçadas dos incontáveis barzinhos, quase todos parecidos com os bares "copos sujos" da avenida Prudente de Morais e do Edifício Maleta.
Cinco dias em Hanoi bastam para conhecer bem a cidade, visitar os pontos mais importantes e comprar bugingangas de origem suspeita. Um passeio altamente recomendado para quem não liga para bagunça.








Helicóptero norte americano e tanques vietnamitas, próximos de escombros da guerra do Vietnam. Tudo reunido no museu do exército em Hanói. 

terça-feira, 22 de março de 2011

Hanói - parte 1


A primeira impressão que tive ao chegar no aeroporto de Hanói foi de que tinha desembarcado num lugar abandonado, fora do tempo, apesar dos grandes jumbos da Vietnam Airlines estacionados na frente dos hangares.
Não tinha vivalma no imenso salão de desembarque. À exceção do grupinho de turistas desorientados no guichê dos vistos (para entrar no país é preciso pedir o visto com antecedência pela internet e pagar uma taxa com o cartão de crédito).
Na hora de receber o visto no passaporte, uma luta. Desorganização extrema. Sem fila e documentos sendo preenchidos conforme o humor de cada funcionário da imigração (todos devidamente fardados, carrancudos, sem entender bulhufas de inglês).
Num frio ardido de 10 graus pegamos uma van e, no melhor estilo sardinha enlatada, fomos para Hanói, uns 40 quilômetros do aeroporto. O mesmo trecho de táxi sai pelo triplo do preço.
Na cidade, o detalhe que não escapa a ninguém é o borogodó causado pelas milhares de motocicletas zanzando e pela precária sinalização. Incrivelmente, quando fechamos os olhos e achamos que o desatre é iminente, surpresa: nada de mau acontece. Um buzina daqui, outro pára o carro acolá, o pedestre xinga e todos seguem incólumes. Difícil de acreditar.
Hanói é linda. O centro histórico chamado Old Quarter tem inúmeras lojinhas coloridas, instaladas em ruelas com ar meio decadente. E pessoas vendendo até dente de ouro da sogra a preço de banana. Bastam alguns dongs no bolso para comprar mochilonas falsificadas, quadros do Tintin (apenas uma dentre tantas influência européias no Vietnam) e badulaques inimagináveis (pinturas de todo tipo, escorpiões e cobras engarrafados, vestuário do exército vermelho e por aí vai). Ainda sobra dinheiro para o almoço.
Aliás, falando nisso, a comida deles, além de ser deliciosa, é também baratíssima. Com 10 dólares duas pessoas podem se esbaldar. Vale lembrar que os vietnamitas são exímios cervejeiros. Provei mais de 5 marcas diferentes e recomendo a Saigon (tão boa quanto a Bintang indonésia e a nossa Brahma).

Centenas de motocicletas, carros e pedestres num trânsito caótico. Surpreendentemente a coisa funciona.

Trânsito à beira do Lago Hoan Kiem, na região central de Hanói

Lago Hoan Kiem, cercado de prédios históricos. Herança de um tempo em que o Vietnam ainda levava a sério a doutrina socialista.

Rua do bairro Old Quarter.

Tomando a cerveja Hà Nói num dos bares do Old Quarter.

Foto em exposição no museu de guerra. Registro do momento em que franceses são rendidos pelas tropas vietnamitas, durante a Guerra da Indochina (1946-1954).


A Alice no museu de guerra, em frente a um helicóptero americano apreendido durante a guerra do Vietnam.


Passeio pelo mausoléu do Ho Chi Minh, revolucionário socialista e herói nacional. Ou "Tio Ho", para os mais íntimos.

Vestígio da guerra do Vietnam: destroços de um B-52 americano derrubado sobre um pequeno lago, no centro de Hanói. Memória do tempo em que os vietnamitas derrotaram as "forças imperialistas" norte americanas.

domingo, 20 de março de 2011

Pra lá de Tutuala

No extremo leste da ilha de Timor fica o ilhéu de Jaco, (mais um) lugar paradisíaco neste país que impressiona pela riqueza natural. A última cidade timorense antes do ilhéu é Tutuala. Lá as pessoas falam o complicado dialeto fataluko e estão acostumadas a receber gente vinda de todo lado, ávida para conhecer a tão falada Jaco. Em Tutuala ficamos hospedados e esta foto tirei quando voltava de canoa para nossa pousada. Se a minha conexão banda curta permitir, postarei aqui algumas fotos do que vi por aquelas bandas.

terça-feira, 15 de março de 2011

Camisola DIAK!

Há duas semanas a seleção timorense de futebol jogou uma pelada contra o time da GNR - Guarda Nacional Republicana - de Portugal no Estádio de Dili, num evento beneficente.
Os locais dominaram a partida, criaram excelentes oportunidades de gol, mas acabaram cedendo o empate. Na disputa de pênaltis, a GNR levou o caneco (o pessoal que assistiu ao jogo 'da geral' delirou).
A festa foi excelente e o melhor foi conhecer pessoalmente o "Monumental de Dili", bem maior do que parece, visto de fora (e nas fotografias da cidade que eu já estudava bem antes de embarcar para o Timor).
Ainda fomos brindados com a presença das crianças timorenses (sempre elas!), devidamente trajadas com a camisa da seleção canarinho. Só resta dizer: CAMISOLA DIAK!



domingo, 13 de março de 2011

The Who

Numa época em que o explosivo KEITH MOON ainda era parte do quarteto britânico. E que o chimbal da bateria foi simplesmente abolido.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Um pouco mais de Singapura

O site R7 noticiou em 2010 sobre Singapura que "Há mais de 18 anos, as autoridades da cidade-estado decidiram proibir o consumo de chiclete por motivos de higiene, argumentando que a goma fica presa nas portas e assentos do metrô, e é difícil limpar. O Ministério da Saúde autorizou em 2004 a comercialização - com receita e apenas nas farmácias - de chiclete com nicotina, usado como tratamento para deixar de fumar, outra obsessão em um país com a lei antitabaco mais restritiva de toda Ásia. Quem vender chiclete em Cingapura pode ser condenado a uma pena máxima de dois anos de prisão, enquanto as pessoas que são surpreendidas mascando em vias públicas são multadas."
Curiosidades à parte, o rigor com que os singapurianos lidam com limpeza pública, criminalidade e organização, mesmo que soe um pouco exagerado (eles acreditam na repressão e ponto final), não diminui o prazer de perambular pelas ruas da cidade modelo.
Sobre o chiclete, nunca fui seu fã. Se fosse, estaria perdido. Primeiro porque sou cariativo (termo técnico usado para designar as pessoas que possuem tendência natural - e irremediável - de viver com os dentes podres e cariados - explicação tosca mas é por aí) e minha esposa é dentista. E brava!
Na nossa curta estadia em Singapura registrei uns pontos bem interessantes, que são os seguintes:


Hotel Raffles, batizado em homenagem ao britânico fundador de Singapura, Thomas Stamford Raffles. O prédio é patrimônio cultural e histórico da cidade. Ficar hospedado nele é privilégio para os abastados. O guia do nosso passeio sugeriu experimentar o badalado chá da tarde do Raffles mas optamos pelo insípido churrasquinho de pato do mercado, mais adequado à nossa capacidade financeira.

Prédio onde funcionava a Suprema Corte de Singapura. Um espetáculo. A construção mais bonita que vi na cidade.


Pequeno templo hindu no Little India. Reduto da grande comunidade indiana de Singapura. Lugar para bater perna e encontrar badulaques baratíssimos.


Igreja católica construída pelos irlandeses. Detalhe curioso é que diariamente são celebradas missas em inglês, bahasa indonésio, filipino, chinês e malaio. Para se ter uma idéia de como é cosmopolita a cidade-estado .


Este prédio, observado de perto, é estranhamente familiar. Também pudera: é uma réplica de um prédio de Gothan City, pensado a partir de construção idêntica mostrada no filme Batman Returns.


Nas duas últimas fotos: templo chinês e rua com prédios coloridos na Chinatown de Singapura. Meio sem graça, se comparada com a Chinatown de Bangcoc.

terça-feira, 8 de março de 2011

E também queriam comer o cachorro

Seria cômico se não fosse trágico. O amigo defensor Marcelo Tonus trabalhou num estranho caso envolvendo briga de vizinhos que culminou (pra variar) na agressão de uma mulher.
Eis o depoimento da vítima, colhido perante o Ministério Público: "À matéria do autos disse a lesada: que confirma as suas declarações de fls. 16, esclarecendo que ela tinha um galo que ela sempre deixava solto e no mês de Outubro o galo desapareceu. Mais tarde veio a saber através do seu filho JÚLIO DOS SANTOS, de 11 anos de idade, que o galo tinha sido morto e comido pelo arguido e sua família. Essa informação obteve-o porque a filha do arguido, BIMETA, contou ao filho dela. Depois disso, a filha do arguido disse que iriam comer também o cão, e logo que Júlio ouviu isso foi avisá-la para amarrar o cão porque senão o arguido e sua família iriam também comê-lo. Ao comentar que não deviam proceder dessa forma, uma filha do arguido de nome BI IDA foi contar à mulher do arguido. Esta, por sua vez, contou ao arguido JANUÁRIO, que não tendo ficado satisfeito foi para casa dela e no interior da mesma, mais precisamente na sala de visita, a agrediu. Apertou o pescoço, deu um soco na cabeça e atirou-a para o chão. Foi o seu vizinho LINDO que estava a passar para ir almoçar que entrou e foi evitar que o arguido continuasse a agredí-la. O arguido, além de lhe agredir, também partiu um recipiente de vidro que ela utilizava para guardar doces para vender. Esse recipiente custou-lhe dois dólares e cinquenta centavos."
É mole?

segunda-feira, 7 de março de 2011

Cidadão bom é cidadão com medo

A palavra que gela o sangue do administrador público em Singapura é DESORDEM. Na ilha paradisíaca da prosperidade só há lugar para gente disposta a cumprir o seu dever de bom cidadão. Em fevereiro, assim que saímos do aeroporto e descemos para o metrô, ficamos surpresos com alguns avisos.
O primeiro deles dizia ser proibido pisar além da linha amarela antes do trem chegar e parar. Multa para o distraído: 500 dólares. E se alguem estiver num dia louco e resolver dar um pulinho no trilho? Multa de 5000 dólares.
Dentro do trem, outro alerta: o engraçadinho que acionar a trava de segurança sem motivo e cair nas mãos da polícia será convidado a desembolsar a quantia simbólica de 5000 doletas. Calma que coisa não pára por aí.
Chegamos noutra estação e nos deparamos com um simpático aviso: SUSPEITE. REPORTE. ESTEJA SEMPRE ALERTA. NINGUÉM SE MACHUCA. Se a moda pegasse no Brasil ia ser um desastre. Todo mundo tem cara de suspeito.
Pra fechar a lista: traçar um big mac dentro da estação, 500 dólares. Se fumar um cigarro lá paga 1000 dólares e por último, aparecer com um isqueiro cheio de gás (nossa!!), 5000 dólares. Tá preta a coisa em Singapura.
Quem vive na ilha já se acostumou com a pena de morte, as bambuzadas, a imprensa controlada pelo Estado e com a busca neurótica pela organização (vale lembrar que a pessoa que jogar lixo na rua paga 500 dólares e se o infrator for menor de idade o adulto responsável é detido para frequentar um curso educativo - e pagar a multa).
É um estilo de vida bem diferente do brasileiro. Melhor ou pior, não sei. A verdade é que qualquer sul americano que chega naquele país se espanta com a democracia singapuriana.


A hora da vingança contra o passageiro indesejado. Basta denunciá-lo e ver o que acontece.



"Baixa criminalidade não significa ausência de crime."

quinta-feira, 3 de março de 2011

Querido juiz super-herói

Do Brasil ao Timor-Leste (passando por Portugal, evidentemente), não faltam pessoas que acreditam piamente que os juízes (simplesmente por serem juízes) são dotados de um brilhantismo peculiar aos membros da classe, característica que os distingue (os eleva, melhor dizendo) em relação aos demais mortais. Cultura superior, trabalho mais árduo, capacidade de isenção sobre-humana, tudo isso está supostamente dentro do pacote da onisciência e da onipotência judicial.
É raro, contudo, ver um juiz assumir em âmbito nacional que possui tais qualidades ímpares e que seus colegas, juízes de carreira, também as possuem.
Nesta quinta-feira, em texto publicado na Folha de São Paulo, mais importante jornal do Brasil, o recém empossado ministro do Supremo, Luiz Fux, soltou o verbo. Escancarou, "longe do ufanismo", todo o sentimento que nutre pela própria pessoa e pelos outros que exercem função semelhante no país.
Resta dizer que é lamentável ler tal depoimento em pleno século 21.

Folha de São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2011

TENDÊNCIAS/DEBATES
Nós, os juízes
LUIZ FUX

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Cumpre ao juiz combater o farisaísmo, desmascarar a impostura, proteger os
que padecem e reclamar a herança dos deserdados pela pátria
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Outono de 1982. Sete horas da manhã. Beijo a minha esposa, que fazia a mamadeira da nossa primeira filha, e dirijo-me à praça 15 para pegar a barca com destino a Niterói; minha primeira comarca. Acabara de ser aprovado no concurso da magistratura.
Verão de 2011, dia 3 de março, beijo a minha família, agora integrada pelo meu primeiro neto, e preparo-me para ingressar no recinto do Supremo Tribunal Federal para ocupar a 11ª cadeira, vaga. Fui nomeado para a mais alta corte do país. Um sonho realizado, que me leva às lágrimas enquanto escrevo.
A presente digressão, longe do ufanismo, revela testamento de fé aos juízes de carreira; esses nobres trabalhadores que dedicam suas vidas ao mais alto apostolado a que um homem pode se entregar nesse mundo de Deus: a magistratura.
Os juízes, na tarefa árdua de julgar as agruras da vida humana, suas misérias e aberrações, devem ser olímpicos na postura, na técnica, na independência e na sensibilidade, além da enciclopédica formação cultural que se lhes exige.
São altos e raros os predicados que o povo espera de seus juízes: nobreza de caráter, elevação moral, imparcialidade insuspeita, tudo envolto na mais variada e profunda cultura. Os juízes têm amor à justiça: enfrentam diuturnamente com a espada da deusa Têmis o conflito entre a lei e o justo, tratam os opulentos com altivez e os indigentes com caridade.
Nesse mister, assemelhado às atividades sacras, cumpre ao juiz substituir o falso pelo verdadeiro, combater o farisaísmo, desmascarar a impostura, proteger os que padecem e reclamar a herança dos deserdados pela pátria.
O símbolo da justiça plena, ajustada a esses nobres magistrados brasileiros, é a vinheta com que o editor Paolo Barile homenageou Piero Calamandrei na sua obra "Eles, os Juízes, Vistos por um Advogado". A vinheta era composta de uma balança com dois pratos, como todo equipamento semelhante. Num deles havia um volumoso código; noutro, uma rosa; ela, a balança, pendia mais para o prato em que se debruçava a flor, numa demonstração inequívoca de que, diante da injustiça da lei, hão de prevalecer a beleza, a caridade e a poesia humanas.
Assim são os juízes do meu país, essa pátria amada, Brasil, que acolheu meus ancestrais exilados da perseguição nazista, esse Brasil que é o ar que respiro, o berço dos meus filhos e do meu neto e, infelizmente, o túmulo de meu querido e saudoso pai, que merecia viver esse meu momento que se aproxima.
Senti-me no dever de transmitir aos juízes de carreira do meu país que é possível alcançar o sonho que nos impele dia a dia a perseguir a nossa estrela guia.
Senhores juízes brasileiros! Lutem incessantemente pelos seus ideais, porque eu, nessas horas que antecedem a minha posse, acredito que a vida é feita de heroísmos.
Agradeço o estímulo espiritual que me emprestaram com a força do pensamento de que agora era a nossa hora: a dos juízes de carreira.
Pronto. Chegou a hora. A Banda dos Fuzileiros Navais acabou de entoar o nosso hino nacional, vou emocionado para o "juramento de fidelidade à Constituição Brasileira", não sem antes deixá-los, nas palavras de Chaplin, uma última mensagem: "É certo que irás encontrar situações tempestuosas novamente, mas haverá de ver sempre o lado bom da chuva que cai, e não a faceta do raio que destrói.
Tu és jovem. Atender a quem te chama é belo, lutar por quem te rejeita é quase chegar à perfeição.
A juventude precisa de sonhos e se nutrir de lembranças, assim como o leito dos rios precisa da água que rola e o coração necessita de afeto.
Não faças do amanhã o sinônimo de nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás, mas vá em frente, pois há muitos que precisam que chegues para poderem seguir-te".

LUIZ FUX toma posse hoje como ministro do Supremo Tribunal Federal.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Dr. Cirilio Veigas e Dr. Carlos Venicios

Jornal Suara Timor Lorosae edição de 3 de março de 2011

Kuarta, 02 Marsu 2011 - 17:05:22 OTL
Espoza Jose Luis La Marka Prezansa, Tribunal Adia Julgamentu
Posting Husi : Josefa Parada
Kategoria : Notisias Online - Le'e dala : 26 Ona.

DILI- Tuir planu Kuarta (02/03) Tribunal Distrital Dili (TDD) hahu halao prosesu julgamentu ba kazu indiksaun korupsaun nebe involve Vice Primeiru Ministru Jose Luis Guterres.
Iha prosesu julgamentu nebe lidera husi Juis Prezidenti ba prosesu Joao Ribeiro, Joao Velgar no Juis Alvaro Maria Freitas no prokurador Dr. Carlos Venicios no Aderito Tilman no sai hanesan Defensoria Publiku (DP) mak Pedro Camoes, Sergio Hornay, Cirilio Veigas no Cancio Freitas.
Antes halao julgamentu ne’e, Juis Prezidente Joao Ribeiro adia prosesu julgamentu kazu ba loron 11 to’o 14 Abril maka foin bele hahu, tanba arguida espoza Vice PM Jose Luis Ana Mari Valeiro la marka prezensa.    
Tuir planu julgamentu sei rona uluk deklarasaun Vice PM Jose Luis Guteres nudar arguido hodi bele hato’o nia deklarasuan konaba akuzasaun nebe kontra nia.
Defensoria Publiku (DP) Sergio Hornay ba jornalsita sira hatete katak, nia kliente marka prezensa iha tribunal hodi bele kumpri karta nebe hato ona husi tribunal hodi marka prezensa. .
“Ohin ita atu kumpri deit audensia de julgamentu, atu nune’e julgamentu ida ohin ne’e bele halao ka labele halao, razaun fundamental la halao julgamentu tanba iha razaun rua primeiru kona ba notifikasaun arquidu sira nia ne’ebe arquidu sira atu marka sira nia prezensa iha tribunal ne’e ka lae, tuir fali arquido sira kompletu ka lae,” dehan Sergio Hornai iha TDD, Tersa (2/3).
Nudar devensor publiku, Sergio informa katak nia parte sei devende nia kliente Jose Luis iha meza tribunal, maske prokurador hato akuzasaun oin–oin kontra nia kliente, la signifika buat hotu los, tanba sira nia parte mos iha razaun forti atu devende aan.
“Akuzasaun ne’ebe mak Ministeriu Publiku (MP) halo iha ne’eba hatete katak, futu lia hamutuk, kongluio, abuzu poder ne’ebe mak ita nia Vise Primeiru Ministru Jose Luis Guteres iha para atu dejigna ninia ferik oan (Sr. Dra. Ana Maria Valeiro) iha misaun permanente Timor Leste nia ba iha Estadus Unidos Nova Yorke,” tenik Sergio.
Akuzasaun ne’e katak Serhio la los, tanba iha altura neba Vice Ministra Negosiu Estranzeirus Adalgiza Magno maka asina karta hodi tranferese osan ho montante bo’ot ba nia kliente iha Amerika.
Tuir Fontes konfirmadu husi Tribunal Distrital Dili ne’ebe lakohi temi nia naran informa katak, embora arquida la mai neduni hein to’o data ne’ebe mak nia atu mai hodi aprezenta ninia deklarasaun.
Kazu transferensia osan Rihun U$30 ba Eis Konseleiru TL ba Nova Yorke Ana Maria Valeiro, nebe involve mos Vice PM Jose Luis Guterres, no João Camra, ne’e rejistu iha Tribunal Distrital Dili (TDD) ho  numeru prosesu 266/c.ord/2010. Natalia Moniz

Malai esperto


Trabalhar em Timor-Leste como defensor público é uma experiência única porque permite refletir sobre o significado de justiça e dos rituais de aplicação da lei perante um tribunal. Outro dia eu conversava com o antropólogo brasileiro Daniel Simião sobre a maneira tradicional de solução de conflitos em Timor-Leste, chamada nahe biti boot (expressão em tétum cuja tradução é “estender a grande esteira”).
Havendo litígio, as partes envolvidas reúnem-se em cerimônia com o chefe da aldeia (ou outra liderança local), discutem sobre o problema e encontram uma saída conciliatória, com pagamentos para ambos os lados. Assim seguem a vida guiados por um método que funciona. Difícil negar: o timorense é um conciliador nato.
Na sociedade brasileira ou norte americana, contudo, o que se observa é um raciocínio diametralmente oposto. Há um estímulo à litigiosidade (lembro que nos EUA existem profissionais que utilizam um método tão agressivo de atuação no tribunal que foi apelidado de rambo litigation ou rambo lawyering).
São incontáveis as discussões banais que terminam perante um juiz. O Judiciário brasileiro (mesmo os “juizados de pequenas causas”) está à beira de um colapso. E tenta desesperadamente colocar em prática formas alternativas de solução de conflitos, como a conciliação e a mediação. Querem reforçar por lá o que já tem sido feito aqui em Timor há tantos anos.
Quando analiso a questão por este ângulo, vejo que submeter a qualquer custo um povo acostumado ao nahe biti boot às regras legais que disciplinam a atuação de um tribunal (nos moldes estritamente ocidentais), representa não apenas agressiva ingerência cultural. Revela também arrogância por parte do estrangeiro. Quanta ilusão falar em acusação, contestação ou consciência da ilicitude para o homem da montanha!
Facílimo acreditar que o velho modelo judicial baseado na lei supera o sistema tradicional praticado pelo povo timorense. Difícil para quem vem de fora é perceber que as pessoas daqui têm suas vidas afetadas por conflitos da mesma forma que o resto do mundo. Se em regra buscam a conciliação não é porque se sentem menos abaladas. Esse erro eu cometi quando participei da minha primeira audiência criminal e a vítima, abusada sexualmente, fez acordo com a família do autor. Tudo estava resolvido e eu minimizei o que ela estava sentindo. Porque vim de um sociedade que resolve todos os seus problemas na briga (nem que essa briga seja intermediada pelo juiz).
A maneira como o timorense enfrenta seus conflitos deve ser compreendida pelo estrangeiro e tida como exemplo para diminuir a litigiosidade que já se tornou banal em países supostamente civilizados.