sábado, 29 de janeiro de 2011

127 horas


No livro Cem dias entre céu e mar, Amyr Klink conta a história trágica de três casais que estavam a bordo de um veleiro no mar mediterrâneo. Durante uma calmaria, os seis tripulantes decidiram pular na água e dar umas braçadas ao redor do barco. O entusiasmo virou desespero quando eles se deram conta de que ninguém fora suficientemente atento para baixar a escada de acesso ao convés. O descuido custou caro: morreram todos depois de tentar, em vão, escalar o veleiro.
O filme 127 horas, com estréia prevista no Brasil para 18 de fevereiro, retrata bem o terror 'banal', originado a partir de uma situação improvável e de absoluta simplicidade.
Sobram exemplos de trabalhos mal sucedidos sobre o tema, como o filme Mar Aberto (aquele do casal que vai mergulhar e é esquecido em alto mar na companhia de um cardume de tubarões) e o livro A Garota que amava Tom Gordon, de Stephen King (menina vai fazer xixi, perde-se da família num parque florestal americano e passa nove dias vagando sem rumo).
O fato é que atrair a atenção do espectador durante uma hora e meia, sobre uma única pessoa, parada quase o tempo todo no mesmo lugar, não é tarefa fácil. Podemos apostar todas as fichas numa chatice sem fim. Este não é o caso de 127 horas, no entanto. Graças à inteligência do diretor Danny Boyle e do ator James Franco. Este interpreta um montanhista que, num sábado ensolarado, encontra-se subitamente preso embaixo de uma pedra, no meio de uma região inóspita do estado de Utah. Da incredulidade ao pânico é um pulo. E o desfecho da história abala os nervos (vários desmaiaram durante a apresentação no Festival de Toronto).
A indicação de Franco ao Oscar de melhor ator em 2011 não parece injusta. Ele convence quando mostra a angústia do personagem e a sua progressiva degradação, pela dor, falta de água e de comida. Filme interessantíssimo, baseado na biografia de Aron Ralston (Between a rock and a hard place, publicada em 2004).

 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Rony Cócegas e Raul Seixas


O humorista Ronilson Nogueira Moreira, peça raríssima conhecida pelo grande público como Rony Cócegas, tinha histórias de sobra para contar. Nascido na capital baiana em 1940, interpretou o inesquecível Galeão Cumbica da Escolinha do Professor Raimundo na década de 90. Antes disso trabalhou com cinema (gravou o insuspeito “Pura como um anjo, será... virgem?” em 76, dentre outros), teatro e música (postei aqui um vídeo sobre o compacto “A Gargalhada”, raridade de sessenta e poucos).
Na área musical paira um certo mistério sobre Rony Cócegas. Tem gente na internet que jura de pés juntos que ele teria sido baterista do Raul Seixas e participado da gravação de sucessos do Maluco Beleza. Não é bem assim. Essa é mais uma história para boi dormir que espalharam aos quatro ventos.
Rony foi mesmo baterista em Salvador. Aparentemente tocou algumas vezes na mesma banda do Raul, numa época que ele nem sonhava em fazer sucesso. O humorista declarou em entrevista: "Tocávamos (ele e Raul Seixas) em Feira de Santava e em Itabuna. Não tinhámos nem nome e não faziámos sucesso nenhum.”
Então, é complicado sustentar que Rony Cócegas foi de fato baterista “do Raul Seixas”. Tudo indica que eles foram sim parceiros de banda, num período remoto de anonimato que antecedeu a estréia dos Panteras em 63.
Finalmente, o apelido “Cócegas” deve-se ao fato de que ele aproveitava os shows de música para entreter a platéia com suas piadas. Figura tão hilária devia causar mesmo o maior furor.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Elton John - Rocket man ao vivo

No final da terceira temporada de Californication, divertida série de televisão estrelada pelo David Duchovny (irreconhecível para quem lembra dele em Arquivo X), há um longo trecho de tumulto e prisão do personagem principal. E a cena acontece com Rocket man ao fundo. Como nada conheço do Elton John, fiquei subitamente MARAVILHADO com aquele som. Letra e música fantásticas. Depois disso (e por forte influência da esposa), vou dar um jeito de providenciar um disco do cara, ouvir bastante e largar de ser ignorante. Afinal de contas, parece que ando perdendo coisa muito boa.



She packed my bag last night, preflight
Zero hour, nine a.m.
And I'm gonna be high
As a kite by then

I miss the earth so much
I miss my wife
It's lonely out in space
On such a timeless flight

And I think it's gonna be a long, long, time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Ah, no no no...
I'm a rocket man
Rocket man
Burnin' out his fuse
Up here alone

Mars ain't the kind of place
To raise your kids
In fact, it's cold as hell
And there's no one there to raise them
If you did

And all this science
I don't understand
It's just my job
Five days a week
A Rocket Man
Rocket Man

And I think it's gonna be a long, long, time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Ah, no no no...

And I think it's gonna be a long, long, time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Ah, no no no...
I'm a rocket man
Rocket man
Burnin' out his fuse
Up here alone

And I think it's gonna be a long, long, time
And I think it's gonna be a long, long, time
And I think it's gonna be a long, long, time

Long, long, time
Long, long, time

Ah, no, no, no...
Oh, no, no, no, no, no, no, no...

domingo, 23 de janeiro de 2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Os sugismundos

Em dezembro de 81, duas figuras encapetadas no meio da sujeira: o amigo Pedro Lansky (à esquerda) e eu. Naquela altura meu cabelo já tinha crescido depois do banho de leite fervido na cozinha lá de casa. E eu era branquelo e meio gorducho. Haja paciência da minha mãe pra aguentar um moleque desse naipe. A fotografia é uma feliz lembrança da Tinina. Muito bom!

Os três melhores livros que li em 2010

Serial Killers - Made in Brasil – Ilana Casoy
Viagem impressionante pela mente dos mais perigosos assassinos em série do Brasil. Ilana Casoy narra com riqueza de detalhes as histórias sombrias envolvendo crimes praticados por homens como Francisco Costa Rocha, o Chico Picadinho (detento mais antigo do Brasil) e Marcelo Costa de Andrade, vulgo Vampiro de Niterói. O texto, em especial o produzido sobre o Vampiro, não é para qualquer um e faz o sangue gelar. Na edição que li faltou uma parte dedicada ao Maníaco do Parque (Francisco Costa Rocha), feroz psicopata paulista que estuprou, torturou e matou pelo menos seis mulheres na região sul da cidade de São Paulo.

A caverna – José Saramago
Este foi o sexto livro que li do Saramago e por sinal o mais interessante. Conta a triste história de um oleiro que tem a vida subitamente transformada pela urbanização e pela automação. Em desespero, à beira da miséria e da constatação de sua inutilidade, apoia-se na filha, no genro e no cachorro Achado para tentar encontrar uma solução para o desemprego iminente. Adorei O Evangelho, mas A caverna é um livro monumental, com um final surpreendente.

Timor-Leste – Interesses internacionais e actores locais
O pesquisador português Antônio Barbedo de Magalhães escreveu a obra definitiva para quem quer COMEÇAR a entender a história de Timor-Leste, riquíssima, sofrida e, acima de tudo, COMPLEXA. O livro divide-se em três volumes e analisa fatos acontecidos desde a invasão de Timor pela tropas australianas em 1942, durante a segunda guerra, até o ano de 2007, período de construção do Estado Democrático. Imprescindível porque separa o joio do trigo e faz entender quais são os verdadeiros objetivos dos países e líderes vinculados a Timor-Leste.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Nem os Flintstones ficavam de fora


Numa época em que aspirar monóxido de carbono com nicotina e outras incontáveis substâncias tóxicas era cool, até os mais inocentes personagens do imaginário infantil pegaram carona na onda do tabaco. Achei na internet um vídeo dos Flintstones mandando brasa num careta, felizes da vida. Isso em comercial do Winston veiculado na década de 60, muito depois de Humphrey Bogart e do antológico Casablanca, de 43.
Até bem pouco tempo atrás, os descolados não abriam mão do cigarrinho na hora do recreio do colégio. Ser pra frentex na adolescência todo mundo sabe que é sinônimo de sucesso garantido.
No início de 2010, os donos de casas noturnas de Belo Horizonte ficaram em polvorosa com a nova lei antifumo, que proíbe acender cigarro em ambientes fechados particulares e em prédios públicos de Minas Gerais. O teimoso que for flagrado baforando fumaça em lugar proibido pode gerar multa altíssima ou até interdição do boteco.
Logo antes de sair do Brasil, a situação era a seguinte: ou a pessoa segurava as pontas um tempão na fila para acesso ao 'fumódromo' ou punha-se num entra e sai do bar, durante a noite inteira.
Quem diria que do anúncio dos Flintstones chegaríamos a um controle tão rígido e às incômodas fotografias do moribundo cowboy da Marlboro, do feto engarrafado e do namorado com a bandeira a meio pau.
 O cerco se fechou no Brasil e tomara que um dia também se feche em Timor-Leste, reduto de europeus nicotinados.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ano novo ou tudo de novo? (Texto da Beatriz)


Não é porque é novo que tem de ser diferente do que já foi. Pode ser, não importa se bom ou ruim, simples repetição do passado. Pode ser o mesmo outra vez.

É bem verdade que todo gesto, todo ato ou movimento é único e singular, se introduzido o dado do tempo. O passado, tal como se deu, é irrepetível. Nesse sentido, tudo é criação ex novo, até mesmo aquilo que se repete. A repetição só é possível porque há um agora, um presente que sucede ao passado, e um futuro que só se realiza como presente e, desde logo, se converte em passado. Hábito é isso, reprodução, no presente, daquilo que já não é (mas que pode voltar a ser, pela repetição). Por isso é também constância e continuidade. É novo, como novo é todo ato a seu tempo, mas não encerra novidade. Não faz diferença com o que foi, não traz mudança, nada transforma, ao contrário, anseia a estabilidade. É permanência, costume. Interessante que hábito e costume também significam roupa, traje, vestimenta. Vertir-se, trajar-se também é, por sua vez, um hábito.

Antenor Nascentes (Dicionário Etimológico da Língua Brasileira, Rio de Janeiro, s/e, 1932, primeira e única edição, exemplar nº 838) informa que a palavra vem do latim hatibu, que significa "estado, modo de ser, postura, aspecto, trajo". Aurélio Buarque de Holanda (Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999) também traz essas definições de hábito. Interessa-nos a primeira: "disposição duradoura adquirida pela repetição frequente de um ato, uso, costume".

A sucessão temporal proporciona a experiência da repetição, até a mesmice, a invariabilidade, a inalterabilidade, a linearidade, ou, ao contrário, torna possível a introdução de algo novo, de rompimento com o passado, de fratura, de interrupção do hábito, de transformação – e, de novo, estabilização que, mais adiante, outra ruptura...

A experiência do tempo mostra que a permanência não existe, mas isso não nos impede de desejá-la ardentemente, a começar pela nossa própria existência. A instabilidade atormenta e a ela não nos acostumamos. O passar do tempo se converte em finitude e, com isso, impossibilidade de voltar a ser. O sentido trágico da condição humana é evidente: a ausência de futuro – e a impossibilidade de retorno ao passado, a irreversibilidade, de que nos fala Prigogine – é o fim de toda repetição. Inventamos formas de evasão do tempo, ritualizamos a criação, construímos a regra, buscamos regularidades no universo, seja por intermédio da ciência ou da magia. Janine Ribeiro já disse que a astrologia e a ciência têm a mesma pretensão de prever o futuro e controlar os fatos, antecipando o que está por vir, aniquilando a surpresa. O tempo é a mais dinâmica de todas as regularidades e a mais reveladora prova da finitude, da provisoriedade. É nele que desaparecemos, somos provisórios. Contamos o tempo que nos foge a cada segundo, porque necessitamos da previsão, e nem por isso deixamos de querer eternizá-lo, aprisioná-lo. Repetir é um modo de parar o tempo. Por isso, "cumpre imaginar Sísifo feliz", como diz Albert Camus, lembrado por Roberto Aguiar em seu texto genial, Os filhos da flexa do tempo.

A memória é uma estratégia de estabilização do fato e, com isso, uma forma de vencer o tempo. Trazer de volta o passado é, ao mesmo tempo, nosso triunfo e nosso fardo, porque nem tudo o que está no passado deve ser trazido de volta pela memória ou pela repetição. E, no entanto, talvez pelo hábito, pelo medo diante do novo, do imprevisível, ou pelo vício, pela incapacidade de governar nossas próprias reações, repetimos também aquilo que não queríamos repetir.

Lançados na experiência da vida, desperdiçamos as oportunidades de mudança, não enxergamos as condições que tornam possíveis novas ações e novos resultados. Execramos o erro, o risco e a dificuldade e inventamos mentiras que nos confortam e nos livram de avaliar nossos próprios atos – mas nem por isso somos menos rigorosos com os atos alheios. Amamos a segurança do caminho batido e temos dificuldade de imaginar nossa felicidade fora das certezas. Não fazemos perguntas se não sabemos, antes, as respostas. O que queremos, no fundo, é retornar à segurança do berço, à proteção do útero ou do ovo. Como disse Estanislao Zuleta, "Adão e sobretudo Eva, têm o mérito original de nos ter livrado do paraíso, nosso pecado é que ansiamos regressar a ele".

Somos cegos, de uma cegueira branca como a de que nos fala o Ensaio, de Saramago. Ora, mas se é o desafio que nos mantém vivos! A estabilidade é a morte, o fim de toda busca e de toda interrogação. É paralisia, é repouso. A vida está na possibilidade de mudança, na renovação das incertezas, na diversidade das soluções, na complexidade dos problemas, na abertura para horizontes distintos antes impensáveis, porque fechadas, pelo discurso das verdades universais, as vias das trocas de conhecimento. O malestar que nos provoca a ideia de crise é filho de nossa obsessão por segurança e da nossa afeição pelo dogma, que não pode ser superado, ainda segundo E. Zuleta, sem abrir imediatamente a "questão essencial da angústia", a perda da identidade, a questão de se saber "quem sou eu agora que não penso mais assim?"
A crise, segundo Edgar Morin, "se manifesta não somente como fratura no interior de um continuum, perturbação de um sistema até então aparentemente estável, mas também como crescimento das eventualidades, isto é, das incertezas". Mas o processo da crise não apenas desorganiza, também reorganiza – no sentido, talvez, uma nova estabilidade provisória e temporária.

Por que não podemos mudar? Como pretender alguma mudança no mundo que nos cerca se não somos capazes de mudar a nós mesmos? Por que não podemos ser uma metamorfose ambulante? O que precisamos conservar senão a vontade de crescer em equilíbrio com os demais viventes, permitir a vida e resistir ao vazio, recolocando sempre, em constante processo de tensão, a pergunta sobre como estarmos felizes sem ostentarmos tantos símbolos, tantos teres e haveres, sem precisarmos de um guia, sem precisarmos de vassalos, sem ter que nos subordinar a ninguém ou ser por alguém subordinados? Podemos tentar o equilíbrio entre ser águia e ser formiga ao mesmo tempo, como diz o Professor José Carlos Reis. Podemos tentar enxergar de outras janelas ou nos render ao mistério ou nos contentarmos com o conhecimento provisório e precário. O terror não está na mudança, está em nossa falta de coragem para assumir a necessidade da transformação.

Por isso, bem vinda seja a crise! O futuro não está garantido, jamais estará, mas é preciso reverter alguns processos em curso e deflagrar outros, para que a humanidade tenha futuro.

Karl Jaspers que, segundo Hannah Arendt, foi um homem que, "sem jamais fraquejar", se opôs a Hitler desde o começo do regime nazista, dizia que "se o homem quer viver, deve mudar".

Em nome da mudança, desejo a todos um ano crísico, como diz Edgard Morin. Um ano crísico em relação aos processos imbecilizadores da mídia de massas, para que nos seja possível enxergar o mundo fora dos marcos autoritários de um falso consenso; em relação aos processos avassaladores em favor da morte, às pretensões totalizadoras de ódio e de preconceito, envoltas no fundamentalismo religioso e no fanatismo; aos projetos de aniquilamento, de aprisionamento, de exclusão e de guerra; aos projetos de voracidade de lucro e de consumo desenfreado sem respeito à vida no planeta; de poder e de controle global que nos levarão ao desequilíbrio extremo e, certamente, ao desaparecimento.
Beatriz Vargas Ramos

 
Esta e outras maravilhas da língua portuguesa podem ser encontradas no blog da Beatriz, Na sombra da mangueira.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Cara decepção


Quem passou quinze horas num avião e outras tantas na fila da imigração indonésia, quem foi interrogado pelos policiais truculentos e despreparados do aeroporto, quem se surpreendeu com o aviso amarelo de "pena morte para os traficantes", quem tentou tirar foto do aviso e recebeu um convite para esvaziar a máquina fotográfica, quem pagou caro pela passagem, hotel e visto de entrada em Bali, quem foi enganado por um taxista que não ligou o taxímetro e fez de conta que cobrava um preço justo, quem esperou uma eternidade num engarrafamento sem fim, quem aguentou o cheiro das oferendas balinesas espalhadas por tudo quanto é canto e os vendedores ávidos para negociar o dente de ouro da sogra, quem enfrentou tudo isso no final do ano para desfrutar um momento único de prazer na famosa ilha do sudeste asiático deveria ter pensado melhor.


                          Praia de Kuta, reduto pop de Bali, em dezembro de 2010

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Visão espetacular

Tirei estas fotos em setembro de 2010, do alto do Cristo Rei, em Dili. Lá de cima dá para se ter uma idéia do potencial turístico de Timor-Leste. O litoral daqui põe o de Bali, por exemplo, no chinelo (falando de Bali, brasileiro que chega na ilha indonésia procurando praias paradisíacas sofre uma tremenda decepção - bonito lá é templo, arrozal e olhe lá).
No entanto, aqui parece não existir maior preocupação com a limpeza. Na subida para o Cristo vimos centenas de garrafas plásticas espalhadas pelo chão, apesar das advertências contra o mau hábito de jogar lixo pelo caminho. A situação na areia da praia não é diferente.
Se existe interesse em trazer gente de fora para conhecer Timor-Leste, é bom começarem a pensar nessas coisas.



quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Rodrigo Delage

Colega defensor público de Minas Gerais, Rodrigo Delage, que além de exímio violeiro é uma pessoa sensacional. No vídeo abaixo, toca em programa musical da Rede Minas.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A tal parte oculta do nosso Hino Nacional

Um defensor público brasileiro está autorizado a reclamar de várias coisas. Mas nunca de tédio. Digo isso porque em quase seis anos de trabalho na Defensoria escutei e ainda escuto casos que até Deus duvida. Um dos mais curiosos aconteceu comigo em 2006, quando eu trabalhava no Juizado Cível do bairro Gutierrez, em Belo Horizonte.
Certo dia, apareceu por lá uma velhinha com jeito de doida que, antes de pedir qualquer orientação jurídica, sentou-se numa cadeira da minha sala e perguntou se podia me ensinar algo sensacional. Eu achei muita graça nela e concordei. Ela me disse então que era amicíssima do Tancredo Neves e do Figueiredo. Por isso, tinha aprendido uma 'parte oculta' do hino nacional brasileiro. Seu trabalho, naquela altura, consistia em ensinar aos soldados do exército os tais trechos misteriosos do nosso hino.
Duvidei da história, mas fiz questão de ouvir. A senhora cantou, diante de mim e dos estagiários estupefatos, versos absolutamente desconhecidos. E o fez com veemência, como se tivesse pleno conhecimento de causa. Encerrada a cantoria, pediu uma informação qualquer e foi-se embora. No mês seguinte apareceu de novo e falou tudo outra vez. E assim foi até o ano seguinte, quando fui transferido. O caso da velhinha ficou famoso no Juizado e rendeu gargalhadas com os 'delírios' da amiga do Tancredo.
No início de 2010, quatro anos depois, recebi um email que explicava tintin por tintin sobre a história do nosso hino nacional. No final do texto, dizia-se que a atual introdução instrumental era mesmo cantada e que a letra do trecho, atribuída a Américo de Moura (Governador da Província do Rio de Janeiro em 1879), acabou sendo suprimida (ainda bem, porque dá calo no ouvido). Eis as tais passagens introdutórias:

Espera o Brasil que todos cumprais com o vosso dever
Eia! avante, brasileiros! Sempre avante
Gravai com buril nos pátrios anais o vosso poder
Eia! avante, brasileiros! Sempre avante

Servi o Brasil sem esmorecer, com ânimo audaz
Cumpri o dever na guerra e na paz
À sombra da lei, à brisa gentil
O lábaro erguei do belo Brasil
Eia sus, oh sus!

Quando terminei de ler o email a ficha caiu. A simpática senhora do Juizado, suposta amiga do Tancredo e do Figueiredo, alvo de tantas risadas, estava coberta de razão. Ela pode ter exagerado um pouco na sua história, mas, afinal de contas, tinha algo inusitado para nos ensinar.
Quem se interessar pelo áudio da introdução, cantada com voz doce por Eliezer Setton, pode clicar aqui.

Lei do menor esforço


Outro dia aconteceu um episódio engraçado de plágio, envolvendo texto de minha autoria. Eu estava aqui em Dili procurando na internet solução para uma dúvida jurídica e encontrei um texto sobre a Defensoria Pública, dividido em vários capítulos, cuja autoria era atribuída a uma distinta colega baiana.
Corri os olhos sobre a primeira parte da monografia, que citava meu nome repetidas vezes, sempre precedido dos mais lisonjeiros adjetivos (minha mãe ia adorar!). O que li estava bem organizado, coerente e cheio de informações interessantes.
Decidi retribuir o que me pareceu uma simpatia e enviei à colega um email elogioso sobre seu trabalho, exaltando a qualidade da pesquisa, etc e tal. Dias depois, recebi uma resposta seca, quase monossilábica, fulminando qualquer expectativa de contato amistoso. Fiquei intrigado com aquilo.
Em seguida, resolvi ler o resto da monografia da tal jurista de Salvador. Imensa foi a minha surpresa ao descobrir que a moça copiou e colou trechos de vários artigos divulgados na internet, incluindo textos meus, e montou uma miscelânea, chamando de seu aquele Frankenstein (simples control C, control V, sem mudanças). Ainda por cima fez umas citações do meu nome, provavelmente para amenizar o sentimento de culpa. Ou não...
Haja óleo de peroba!
Doutora, você esqueceu a regra de ouro dos trapaceiros. Se a pessoa não tem capacidade de criar algo novo e decide furtar a idéia de alguém, deve fazer bem feito. Deve COPIAR DIREITO. Ser sacana de maneira menos escancarada. Senão pega mal demais.
O detalhe engraçado da história é o seguinte: só depois de descobrir o plágio desavergonhado eu entendi a razão da secura da baiana. A carapuça serviu e a saída foi escapar pela tangente. Mal sabia a moça que, naquele dia, eu queria apenas agradecer. Nada mais.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Eu, a Alice e o Presidente de Timor-Leste

Neste domingo fomos apresentados, junto com amigos, ao Presidente da República e Prêmio Nobel da Paz, José Ramos-Horta. Almoçamos no convento das madres Canocianas a convite da Madre Aquelina, amiga da Alice lá da Escola Canociana de Comoro (bairro - ou suco - daqui de Dili).
Ramos-Horta é um exemplo de superação. Em fevereiro de 2008, durante atentado sofrido perto de sua casa, foi baleado à queima roupa com tiros de fuzil. Logo depois ele mesmo conseguiu telefonar e pedir socorro. Ficou dois meses internado em Darwin, norte da Austrália. Apesar dos percalços, continua circulando pelas ruas da capital a bordo do seu pitoresco buggy, bem conhecido do pessoal.
Eu e o Alexandre ainda tivemos tempo de tocar duas músicas do Elvis na festa das madres. Observados atentamente pela platéia de baixinhos timorenses.
Lembrei do amigo Rubim, grande Defensor Público em Belo Horizonte, que costumava comentar comigo, antes da minha vinda para Timor, sobre a simpatia das crianças daqui. É, Rubim, você estava certo e ia adorar conhecê-las. 



sábado, 8 de janeiro de 2011

Namoro no lombo de elefante

Passamos nosso reveillon chuvoso em Bali. Apesar de São Pedro não ter ajudado e as ruas estarem praticamente intransitáveis, o feriado foi divertidíssimo (alguém que conheça a ilha nessa época pode criar impressão negativa sobre Bali e optar por outro lugar menos congestionado no ano que vem).
Conhecemos finalmente os restaurantes de frutos do mar indicados com entusiasmo pelo cunhado Gustavo, fizemos até rafting num riozinho de águas turvas e passeamos de elefante. Não há nada como namorar nas costas do bicho, principalmente quando ele resolve fazer estripulias em troca de uns pedaços de melancia.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Crime card

Hermes e Renato foi o melhor programa de humor veiculado pela MTV Brasil. Durou 10 anos (entre 1999 e 2009) numa emissora cuja qualidade despencou vertiginosamente. Escrachado demais, porém inteligente e com uma pitada (para alguns excessiva) de humor negro, HR explorava o lado mais podre do cotidiano brasileiro.
Away de Petrópolis, Professor Gilmar, Joselito Sem Noção, Tolerância Mil, Padre Quemedo e Show do Trilhão foram espetaculares. Mas o vídeo do CRIME CARD é praticamente imbatível. Passo mal de rir com a cara do Joselito negociando com o Gil e a trilha sonora alegrinha que arrumaram para o 'comercial'.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Tim Maia

O Tim Maia é um cara que comeu o pão que o diabo amassou. Custou a ser reconhecido como músico de talento. Embarcou para os Estados Unidos com 17 anos e 12 dólares no bolso, sem falar uma palavra de inglês e sem saber direito onde ia morar. Lá ficou durante 5 anos e quando voltou para o Brasil foi recebido como um alienígena. Conseguiu notoriedade graças à mãozinha dos amigos Roberto e Erasmo Carlos. Briguento, desbocado e engraçadíssimo, Tim Maia deu muito soco em ponta de faca. Até conseguir o que queria.
 Estou lendo a sua ótima biografia escrita pelo paulista Nelson Motta (Vale Tudo, lançado em 2007). É cada história que mata a gente de rir.
Fica o registro de um show de 71, mais uma dessas raridades que encontramos no You Tube.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Índice Big Mac 2010

Para os curiosos ligados em estatísticas, aí vai o índice Big Mac publicado em 2010 pela revista The Economist. Não há nenhuma surpresa. O sanduíche no Brasil continua caríssimo (quase 9 reais - USD 4,91, ou seja, mais caro que um quilo de feijão). Já na Indonésia, o preço é bem menos salgado: USD 2,51, aproximadamente 4 reais.