sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Antes de tudo

Antes de conhecer e cantar repetidamente a música da galinha Marilu e da vaquinha Sarali, antes de encafifar com o RPM e confundir o Paulo Ricardo com um sósia dele no restaurante Alquimia do meu tio Fredinho, antes de passar manhãs e tardes lendo almanaques do Tio Patinhas e do Zé Carioca, antes de espatifar uma ampulheta com água roxa no meio da crisma da minha prima Luciana, antes de virar fã da Rita Lee, antes de conhecer a fabulosa Cidade da Criança em São Paulo, antes de ver um garimpeiro velho tomar meio copo de metanol achando que era pinga e mesmo assim ficar vivo para contar a história, antes de tomar ferroada de marimbondo cavalo, antes de prestar explicações pela primeira vez à diretora do Barão do Rio Branco, antes de desejar intensamente ganhar um Pense Bem, mesmo sem pensar bem sobre a sua utilidade, antes de voar e cair de ultraleve, antes de ver o mar, antes de tomar uma mordida na bunda da cachorra Chulipa, antes de esfolar meus dedos debaixo de um carrinho de rolimã e antes de receber esmola por engano na porta da padaria Pão Bento, antes de tudo isso eu só pensava em ficar abraçado com a minha mãe.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Timor-Leste passou o Brasil em ranking de democracias

Neste mês o jornal Estado de São Paulo publicou  uma matéria intitulada "Brasil cai para 47° em ranking de democracias". Nela expõe resultado de pesquisa elaborada pelo periódico inglês The Economist, que formula a cada dois anos lista de países levando em consideração cinco fatores, a seguir mencionados.
No ano de 2010 o Brasil foi reprovado nos quesitos "participação política" e "cultura política" e desceu seis posições em relação à colocação ocupada em 2008 no mesmo ranking.

"SÃO PAULO - O Brasil caiu seis posições e ocupa a 47ª posição no ranking das democracias do mundo, elaborado pela Economist Intelligence Unit (EIU), braço da revista britânica The Economist. Na edição de 2008 da lista, o Brasil estava em 41º lugar. Agora, está atrás de países como Timor Leste (42º).
Este é o terceiro índice elaborado pela EIU. Os países são ranqueados a cada dois anos. Nesta edição, a tabela reflete a situação mundial em novembro de 2010. São levados em conta cinco tópicos para se elaborar a lista: processo eleitoral e pluralismo; liberdades civis; o funcionamento do governo; participação política; e cultura política.
O Brasil ficou com uma nota geral de 7,12, enquanto em 2008 havia ficado com 7,38. O País recebeu notas elevadas em processo eleitoral e pluralismo (9,58), liberdades civis (9,12) e funcionamento do governo (7,50), mas se saiu mal em participação política (5,0) e cultura política (4,38).
O ranking é liderado pela Noruega, com nota 9,80, seguida por Islândia, Dinamarca, Suécia e Nova Zelândia. Os EUA aparecem na 17ª posição. O primeiro país das Américas é o Canadá, em 9º, e na América Latina é o Uruguai, em 21º. Entre os piores do mundo na relação estão a Coreia do Norte (167º), em último, seguida por Chade, Turcomenistão, Usbequistão e Mianmar.
Sofrendo com uma guerra desde o fim de 2001, o Afeganistão está em 150º, enquanto a China aparece em 136º. A ilha comunista de Cuba ficou em 121º. Na 107ª posição, a Rússia aparece na categoria das democracias imperfeitas, mas apenas a seis postos do primeiro regime autoritário, Madagáscar (113º).

Alerta

O estudo alerta que a democracia está "em declínio" pelo mundo, após a chamada terceira onda de democratização (1974). Segundo a lista, metade da população mundial vive em democracias. "O padrão dominante em todas as regiões ao longo dos últimos anos tem sido o recuo em progressos atingidos anteriormente em democratização", alerta o documento. "A crise global financeira que começou em 2008 acentuou alguns padrões negativos existentes no desenvolvimento político", nota o texto.
Os países foram agrupados em quatro categorias: democracias plenas; democracias imperfeitas; regimes híbridos; e regimes autoritários. O Brasil encontra-se no segundo grupo, o das democracias imperfeitas.
Ainda sobre a América Latina, o estudo alerta que a liberdade de imprensa tem sido "erodida" na região, enquanto forças populistas "e com credenciais democráticas dúbias" têm ganhado espaço em algumas das nações latinas."

domingo, 26 de dezembro de 2010

Burca + biquini = burquini

Hendrix tocando Beatles em Londres

Uma curiosidade para quem gosta de rock'n roll como eu (principalmente do VELHO rock'n roll) e se interessa pela vida dos seus personagens principais.
Em 1° de junho de 1967 (data que caiu numa quarta-feira) os Beatles lançaram na Inglaterra o álbum 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band', hoje considerado uma das obras mais importantes da música.
Naquela altura, a banda já tinha parado de se apresentar em turnês (os Beatles tocaram ao vivo pela última vez em 30 de janeiro de 1969, no terraço do prédio da Apple – inclusive postei um vídeo desse show particular aqui aqui no blog).
Jimi Hendrix, que já era um grande fã da banda, comprou o disco no dia do seu lançamento e dois dias depois (sexta, 3 de junho de 1967), tocou a música título do álbum para uma platéia embasbacada no Saville Theatre de Londres.
Ele só não sabia que o próprio Paul McCartney estava assistindo ao show. Mais tarde, o Paul declarou: “Simplesmente inacreditável. Talvez a melhor música que eu já tenha visto ele tocar.”
Achei essa preciosidade no You Tube e aí vai para os amigos do rock.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal bá ema hotu-hotu!


FELIZ NATAL

para a minha esposa, minha família, meus velhos e novos amigos e os que eu ainda ei de
encontrar pelo caminho,

para a minha afilhada que ainda não tive o privilégio de conhecer e para o meu afilhado que vai ser
ator de cinema,

para todo o povo de Timor-Leste,

para os estagiários da Defensoria Pública,

para os homens que estão presos em Becora,

para os doidos varridos que perambulam pela internet,

para os juízes do Tribunal de Recurso,

para os solitários,

para o David Fincher, por fazer filmes tão bons,

para o Saramago, o Fernando Fiuza e o Hendrix, onde quer que eles estejam,

para a banda Mentol, sempre no meu coração

e para a Gigi, a Bilica e a Suzete .

E próspero ano novo!

Vento - Fernando Fiuza


Vento, inventor de ruídos Esparrame as folhas secas pela cidade Traga o ar para os pulmões Faça voar os fios dos cabelos Apague todas as marcas deixadas na areia Acelere as nuvens no céu Vento irmão dos movimentos Tenha piedade dos pobres Fernando Fiuza 2007

Esta pintura e outras mais, junto com fotos, poemas e histórias bacanas podem ser encontradas no blog do Fernando, chamado Arte Fernando Fiuza.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Os bichos daqui de casa

Do lado de fora da minha casa dorme um gato, esparramado no tapete da entrada.
Sobre o batente da porta vivem quatro lagartixas. Sempre à espreita, revezam-se para tentar descobrir o que fazemos aqui dentro.
No jardim em frente mora um rato. Sai da toca em plena luz do dia e transita impune diante dos outros dois gatos, aparentemente mais interessados em arrumar confusão em cima dos telhados.
Há também uma jaula onde vivem dois macacos despudorados. O Chico e a Chica. Passo lá todo dia de manhã e cutuco o Chico para ver se ele cria caso. Ambos me ignoram. Partem logo para o esfrega porque não resistem a uma platéia.
À noite, quando todos os gatos são pardos, até mesmo os amarelos daqui de casa, um sapo solitário faz de tudo para chamar a atenção. Berra junto à piscina. Sempre atento aos gatos, que além do sapo e do rato, querem pegar uns passarinhos que moram dentro do buraco do ar condicionado.
Haja bicho num lugar só! Vai ser estranho viver sem eles.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Defensoria Pública em Portugal?

O site Consultor Jurídico publicou recentemente um artigo que resume a situação da assistência judiciária em Portugal, hoje a cargo dos advogados oficiosos (nomeados a partir de uma lista de interessados e pagos posteriormente pelo Estado). Sugere-se que o custo do serviço é alto para os cofres públicos, a defesa prestada é ineficiente e há irregularidade nos pagamentos.
O texto menciona a posição da Ordem dos Advogados, contrária à instalação da Defensoria Pública, nos moldes do Brasil: “A Ordem dos Advogados defende o atual sistema com unhas e dentes. O presidente, bastonário Marinho e Pinto, argumenta que só num sistema como o atual é garantida a independência dos defensores. Ele une a sua voz à dos advogados que trabalham como defensores oficiosos. Para eles, criar uma Defensoria Pública, com carreira, hierarquia e orçamento próprios, é tolher a independência e o compromisso do advogado, que se tornaria um funcionário do Estado.”
Em outubro o site português In verbis publicou artigo intitulado “Estado paga ‘às cegas’ 60 milhões a advogados oficiosos”, confirmando-se não só 'falcatruas' na remuneração do serviço em vigor como também substancial diminuição do gasto público decorrente da criação da Defensoria Pública.
Destaca-se ainda o suposto impacto negativo sobre a classe dos advogados, que seria atingida pelo desemprego, em consequência da supressão do serviço de advocacia oficiosa.
Segundo consta no artigo, “José Sócrates (Primeiro Ministro de Portugal) admitiu no programa do Governo para a presente legislatura alterar o sistema de acesso ao direito com a 'redefinição' da figura do defensor público. Mas a promessa permanece na gaveta, estimando-se que ela poderia significar uma poupança nos honorários superior a 50%. Mas, muito advogados ficariam sem trabalho.”
Parece não haver dúvida de que em Portugal sobram advogados e faltam clientes. Pelo menos os que têm condições de pagar honorários. A situação é crítica (vale a pena ler o artigo "Advogados numa «espécie de caça às oficiosas»", publicado em 2009 no In verbis).
Percebe-se que a preocupação do presidente da Ordem com a preservação da autonomia dos advogados portugueses é conversa para boi dormir. Pesquisa mínima revela que no Brasil não falta autonomia à Defensoria, seja para contestar ordem judicial ou para processar o próprio Executivo. Aqui existe zelo é com o ganha-pão dos advogados, eis que muitos deles dependem diretamente da remuneração estatal das oficiosas (justa preocupação de um representante classista).
Quanto ao governo português, está claro que este já fez um juízo de ponderação entre dois valores. De um lado a assistência jurídica (efetiva) dos pobres e do outro a proteção dos advogados. E optou pela segunda. Mesmo que isso onere indevidamente a sociedade de Portugal, beneficie uma minoria e ateste a falência da advocacia privada daquele país.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Despedida de Timor-Leste

Nessa madrugada a Rita e o Rogério tiraram a sua derradeira foto em Timor-Leste. Daqui partiram para a Austrália, com viagem marcada para África do Sul e, finalmente, Brasil. Ufa! Gente, obrigado por tudo, aproveitem Sidney (e o show do Bon Jovi!) e Rita, bons estudos. Vocês vão fazer muita falta para todos nós. Mas julho está aí e nos encontramos em São Paulo. Podem ficar tranquilos que vamos cuidar direitinho do Lobito pra vocês!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O horror, por Allan Sieber

Allan Sieber publicou no seu blog Talk to himself show algumas observações sobre nova tendência da moda feminina:

"Na história do embarangamento progressivo das mulheres promovido pelo Esquadrão Antimulher, a infame calça saruel percorreu em pouco tempo um longo caminho rumo ao Fim dos Tempos. Vejo garotas usando isso na rua e SEMPRE me assusto, é impossível acostumar com uma visão dessas. Me perdoem a grosseria, mas a primeira impressão é que o vatapá chegou ao seu destino final antes da hora e recheou os fundilhos da moça.
Por outro lado, ontem estava tomando meu merecido gin tônica de madrugada num bar ao lado de casa e presenciei uma cena que talvez explique muita coisa: um mancebo - com braços de pôr para correr uma Legião Romana inteira - pediu uma generosa porção de camarão VG no bafo e consumiu a iguaria de GARFO & FACA, retirando meticulosamente TODAS casquinhas dos finados decápodes. Ao lado, sua alma gêmea fitava o Vazio.
Resumindo: esses caras não merecem MESMO ver uma bela bunda em todo seu esplendor."

HILÁRIO!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Doido sim. Tapado não!

Maubisse tem uma exuberante paisagem montanhosa. O clima fresco deve-se à elevada altitude, que proporciona também visibilidade ampla da ilha de Timor. Lugar agradabilíssimo, perfeito para aproveitar um final de semana a dois, debaixo das cobertas.
Em maio de 2010, três parentes moradores de Maubisse, aqui chamados de Mévio, Tício e Caio (em homenagem aos queridos professores de Penal), estavam batendo papo tranquilamente no quintal da casa de um deles. Sem aviso prévio, Mévio pegou uma catana (facão) que estava sobre um banco próximo e desferiu um golpe com força máxima na cabeça de Tício, seu sogro. O homem caiu duro no chão, sem vida, com o crânio fissurado. Caio, o cunhado do Mévio, que assistia à cena estupefato, pensou em correr. Porém antes disso foi atingido no braço, que caiu no chão (o braço). Mévio, por fim, não conseguiu liquidar Caio. Logo depois, enterrou o corpo do sogro Tício e foi à polícia contar o que tinha feito.
Interrogado pelo juiz, Mévio disse que não tinha qualquer divergência com Tício e Caio. Atacou-os porque estavam “a dar saltos na sua frente”. Desconfiaram da idoneidade psicológica do acusado e ele foi submetido a exame de sanidade mental.
O resultado não podia ter sido mais interessante.
O médico responsável, após confirmar que o Mévio sabia somar três mais cinco, o nome do presidente da república e que não delirava, afirmou, categórico: o estado mental do réu é normal.
Eu cá pensei: será que o doutor não conhece o Chico Picadinho? Célebre psicopata brasileiro que retalhou umas mulheres e dava palpites abalizados sobre a obra de Dostoiévsky. Hoje, detento mais antigo do Brasil, pinta e vende quadros. Fala com invejável desenvoltura (para informação completa sobre isso, recomendo o livro Serial Killers made in Brasil da Illana Casoy). E o Francisco de Assis Pereira, astuto maníaco do parque?
Faltou ao médico psiquiatra a percepção de que doido varrido não é, necessariamente, oligofrênico (idiota, imbecil ou débil mental). Eles costumam ser espertíssimos, isso sim. Mas nem sei se vale a pena brigar pela internação do Mévio. É bem provável que se ele for declarado inimputável, vai receber ordem de entrada no manicômio judicial, com possibilidade de saída no dia 31 de fevereiro de um ano qualquer.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Lei e ordem

Um dia desses eu estava vagando pela internet e encontrei um blog chamado Lah em Cingapura, no qual um brasileiro narra suas experiências de vida e impressões sobre esse país do sudeste asiático. Lá o autor publicou um post que me chamou a atenção:

"PICHAÇÃO EM CINGAPURA No meu primeiro post (acho) eu cheguei a comentar que aqui tem leis severas e pena de morte, aplicada a tráfico de drogas e homicídios. Comentei, também, que não há distinção entre usuários e traficante. Foi pego com drogas? É traficante e ponto final e ainda vai ser enforcado na prisão localizada em Changi (perto do aeroporto).
Estou lendo durante a semana que a estátua do Cristo foi pichada e que estão à caça dos que fizeram isso. Tá bom, vai pegar e vai acontecer o quê? Irão trabalhar na prisão? Vão pagar multa? Ficarão anos e anos presos? Aham, claro…
Em Cingapura, o prêmio para quem for pego pichando será levar de 6 a 8 chibatadas. Para se ter uma idéia de como isso não há negociação, em 1998 o norte Americano Michael Peter Fay, que pichou vários automóveis, foi condenado a seis chibatadas de vara de bambu. Com a intervenção do presidente Bill Clinton, a pena foi reduzida para quatro chibatadas. Beeem melhor 4 do que 6, não é?!
Eu juro que tentei achar uma foto de um cara que mostra como ele ficou marcado 5 anos após a surra mas achei uma bem interessante para colocar no lugar. É de como é executada essa pena.
Por isso que em Cingapura tem ordem e é pacato…"

(A fotografia, horrorosa, é dispensável).

É velhíssima a associação que se faz entre rigor de pena (e rigor da lei) e paz social. Nos Estados Unidos, a maioria dos estados federados ainda permite a pena de morte. Não existe, porém, qualquer dado concreto que indique redução da criminalidade associada à èxistência da pena capital. E diminui a cada dia a sua popularidade entre os americanos.
Estive em Singapura (prefiro escrever com 'S' porque acho mais bonito) no início do ano e uma das primeiras coisas que reparei naquela nação minúscula foi a ameaça para traficantes no aeroporto. Aviso semelhante existe na Indonésia, com letras garrafais e cor de destaque ("death penalty for drug traffickers"), conforme já relatei aqui no blog (curiosamente os indonésios parecem ter vergonha da sua própria lei. Mas enfim...).
O mito da intimidação benéfica faz parte do senso comum. O editor do blog afirma com tanta veemência que é "Por isso que em Cingapura tem ordem e é pacato" porque essa é a associação mais fácil de ser feita. Repressão - medo - paz. Será que educação, distribuição de renda, saúde, instituições públicas consolidadas e políticas públicas de desenvolvimento não têm relevância? O argumento do medo é simplista demais. A Indonésia é a prova viva. Um país com quase 250 milhões de habitantes que vivem morrendo de medo de abrir a boca, cientes de que aquilo é um imenso Estado-polícia. Todavia em cada esquina de Bali tem um sujeito oferecendo maconha, cocaína e ecstasy. Ué! Como explicar esse intrincado paradoxo?
E é engraçado como a pessoa que defende chibatadas para bandido não percebe que amanhã a acusação pode recair contra ela mesma, a incentivadora do endurecimento legislativo. Em Singapura será que existe liberdade de expressão? Duvido. Será que existe pluralismo político (de fato)? Duvido. E imprensa livre para investigar e apontar irregularidades no governo? Também duvido. E o devido processo legal, como funciona? Aposto num procedimento sumaríssimo de viés inquisitorial (vale a pena dar uma olhada no parecer atualizado da Freedom House sobre a democracia e o respeito às liberdades públicas em Singapura, país classificado como  "parcialmente livre"). Afinal de contas, para quê serve esse negócio de direitos humanos, ampla defesa e dignidade? Isso é coisa de comunista.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Assassinato de lactobacilos

Quem acha que a maneira mais eficiente de exterminar lactobacilos é entornar doses cavalares de Serra Malte ou Itaipava, ainda não bebericou a cerveja Tiger, fabricada em Singapura (e vendida aos montes em Timor-Leste).
Trata-se de insuspeita bebida alcoólica que, uma vez ingerida, destrói a flora intestinal e causa crises irreversíveis de ventuosidade, acompanhadas daquele indesejado piriri gangorra (nem adianta apelar pra banana verde, floratil ou gelatina). Os amigos do peito desaparecem por 48 horas e o desempenho sexual profissional diminui exponencialmente.
Em solo indonésio, desaconselho a ingestão dessa droga cerveja. Os banheiros não ajudam e encontrar Yakult por lá é tarefa inglória. Na dúvida, vamos de Bintang que a satisfação é garantida.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Mick Jagger de Timor-Leste

Eis o homem que todas as mulheres procuram! O Mick Jagger de Timor. Aliás, muito mais do que isso! Macho alfa que põe no bolso o Wando, José Mayer e Kakinho Big Dog. Provoca histeria coletiva na balada de Los Palos, Viqueque e Suai com seu inato sex appeal. Revistas de fofoca registram seus casos tórridos de amor com modelos e atrizes indonésias. Só ele tem o privilégio de carregar a banda em sua própria mikrolet. Presença certa nas festas de gala a bordo do Nakroma, rumo a Oecussi. Primeiro lugar dos concursos musicais Timor Idol e Timor`s got talent. Sua fama não tem limites e repercute para lá da Papua-Nova Guiné. Confirmou abertura do show do U2 na turnê de 2011, começando por Atambua e Kupang (o site de vendas Ticket Master ficou congestionado e saiu do ar). Brincadeiras à parte, esta figura sensacional é NELSON TURQUEL!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Caminhando com as próprias pernas

A situação econômica, política e social de Timor-Leste após 1999 era catastrófica. Já mostrei neste blog algumas marcas de destruição física, que até hoje chamam atenção nas ruas de Dili. Tudo indica que o exército indonésio quis aniquilar completamente qualquer resquício de desenvolvimento, de modo que o povo timorense lamentasse durante décadas a 'ousadia' de querer se emancipar da potência vizinha (digo que a Indonésia é uma potência porque, dentro do padrão econômico asiático, o país do general Suharto se destaca).
O pesquisador português Antônio Barbedo de Magalhães ilustra bem a realidade local constatada pela equipe da ONU que formou o governo transitório em Timor-Leste (UNTAET): “Sérgio Vieira de Mello chegou a Dili em 17 de novembro e encontrou um país completamente devastado. A administração pública deixara de existir. A maior parte dos cargos de responsabilidade tinham sido ocupados por indonésios, entretanto regressados ao seu país. Não havia polícia, pelos mesmos motivos. As escolas tinham deixado de funcionar. A maior parte delas foi destruída, os livros e o mobiliário queimados, e muitos professores tinham fugido ou sido deportados à força. Os equipamentos de produção e distribuição de electricidade tinham sido sabotados. O mesmo acontecera aos serviços telefónicos. Praticamente não havia lojas, sobretudo em Dili, porque tinham sido saqueadas e incendiadas. Também não havia serviço postal. E mesmo os sistemas de abastecimento de águas tinham sido danificados, em muitos casos.” (Timor-Leste: Interesses internacionais e actores locais, v. III, Editora Afrontamento, 2007, p. 623).
Hoje, passados mais de 10 anos do 'setembro negro', a precariedade do comércio e do serviço público ainda é significativa. Porém a restruturação econômica do país começou e se olharmos com atenção o que de novo surge em Dili, temos motivo para otimismo. As coisas vão melhorar, contanto que a eleição de 2012 não termine em guerra civil e que a saída do pessoal da ONU aconteça gradativamente, evitando com isso os erros de 2005.

Timor Plaza, o primeiro shopping center de Timor Leste. Obra com entrega prevista para o meio do ano que vem. Parece que vai ter até sala de cinema.

Compound de chineses, com restaurante novíssimo à beira mar. As casas são alugadas pela bagatela de 4.500 dólares por mês.

Quem não tem cachorro caça com gato. Enquanto McDonald's, KFC e Burguer King não vêm pra cá, nos viramos com o Street Burguer King dos singapurianos. 

Segurança bancária eficiente

domingo, 5 de dezembro de 2010

Alex Noriega


Este e outros cartuns bacanas podem ser encontrados no site do cartunista espanhol Alex Noriega, chamado Stuff no one told me.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Dormindo no ponto

O embaixador de Portugal em Timor-Leste, Luís Barreira de Souza, caiu nos braços de Morfeu inoportunamente. O cochilo, tirado durante solenidade recente, poderia perfeitamente passar despercebido. Isso se o dignitário luso não estivesse sentado quase ao lado do Presidente da República, José Ramos-Horta, que não hesitou em bater uma foto.
Os espectadores pareceram gostar da cena. Alguns portugueses, contudo, ficaram nervosos. Em blog intitulado Neste nosso Portugal, a crítica foi mordaz e se dependesse do autor do texto (anônimo), o embaixador relapso seria imediatamente condenado a galés perpétuas: "Portugal no seu melhor! É uma vergonha! A personagem que dorme profundamente, durante uma cerimónia oficial, é o Excelentíssimo Embaixador de Portugal em Timor. Quem aproveitou a ocasião para tirar uma fotografia, foi o Presidente da República de Timor, Ramos Horta. Uma verdadeira pérola, esta série de duas fotografias. Espero bem que cheguem ambas ao conhecimento do Ministro de Negócios Estrangeiros de Portugal, para demitir o Embaixador, o qual não sabe exercer as suas funções, com a devida compostura. E os restantes elementos riem da figurinha...".
Aposto todas as minhas fichas que essa piada de português vai terminar em pizza.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Pérola do rock`n roll

No dia 7 de junho de 1969, Eric Clapton e alguns amigos lotaram o Hyde Park de Londres num dos shows mais interessantes da história do rock. Primeira apresentação pública da banda Blind Faith (uma reunião de grandes músicos ingleses da época, com participação do lendário baterista do Cream, Ginger Baker), feita num pequeno palco rodeado por mais de cem mil pessoas.
Em regra, os projetos encabeçados pelo Clapton, midas da música britânica, foram bem sucedidos e no caso desta banda a história não foi diferente. Apesar da existência do Blind Faith ter sido curtíssima (1968-69), o grupo obteve destaque e acumulou elogios. Tanto é que no ano de 2009 Eric Clapton e o antigo vocalista da Blind Faith, Steve Winwood, voltaram a tocar juntos e saíram em turnê (conferir o DVD duplo Live from Madison Square Garden).
O show do Hyde Park marca pela qualidade instrumental e dos vocais de Winwood (também lançado em DVD, no ano de 2006). A música Under my thumb (que mostro no vídeo abaixo) é uma versão completamente diferente da original dos Rolling Stones (cuja letra escandalizou muitas feministas inglesas). Na minha opinião, muito melhor, especialmente pelo solo de guitarra, indescritível. Uma preciosidade do rock, gravada há 41 anos atrás.

E São Pedro abriu a torneira

A chuva chegou. Neste ano, aliás, ela não deu trégua. Desde junho caem chuvas fortes em Dili, contrariando as expectativas meteorológicas. A época tradicional de estiagem, compreendida entre os meses de maio e setembro, não foi nada seca.
Acontece que a capital de Timor Leste é uma cidade litorânea cujas vias de escoamento não dão conta do recado. Basta um toró de meia hora de duração para criar alagamentos e tornar praticamente intransitáveis as suas principais vias. Aí é carro baixo quebrando ou atolando, gente ensopada debaixo de guaritas da polícia parecendo pinto molhado, menino correndo pelado e dando cambalhota em poça d'água.
O asfalto daqui, diga-se de passagem, lembra a estrada de Patos de Minas (para quem não conhece, uma rodovia mineira em cujas margens viam-se placas do governo com o inusitado alerta: “Cuidado! Buracos na pista”).
Tirei estas fotos quando voltava da defensoria. Nas proximidades da catedral a calçada sumiu e um caiaque poderia ser usado como valioso meio de transporte.





quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nada de franguinho com quiabo

Na Indonésia vivem duzentos e tantos milhões de habitantes, existem milhares de ilhas paradisíacas, tem gente de toda raça e credo. Mas o país possui uma especialidade marcante: fazer comida ruim. Entretanto, há momentos críticos em que a fome nos leva a passar por cima de qualquer preconceito, por mais obscuro que ele seja. No nosso caso, adentrar um pequeno muquifo de Atambua, perto da divisa com Timor-Leste, foi como colocar os pés no Porcão depois de um dia sem comer. Vale mandar brasa em tudo, sem hesitar. Só não dá pra manter o sorriso.