Dois casos recentes acontecidos no tribunal de Dili merecem postagem neste blog. Amanhã posso querer ler as coisas que registrei para lembrar com clareza de tudo que vi neste país tão diferente.
O primeiro caso tratava de um crime de ofensas corporais (nossas lesões corporais) praticadas por marido contra mulher. O sujeito encheu a esposa de bofetadas no meio de um mercado famoso da capital. O sogro, testemunha do fato, foi chamado para depor. Indagado pelo juiz sobre o ocorrido, respondeu: meritíssimo, eu vi o Fulano bater na esposa sim. Deu tanto tapa na cabeça que ela caiu de joelhos. Mas o absurdo, seu juiz, é que ele bateu na minha filha em público! (nessa hora, o oficial de justiça acordou e ficou olhando com ar intrigado). O juiz então perguntou: como assim? E o sogro: o negócio é o seguinte, meritíssimo. Mulher a gente bate em casa. Na rua fica ruim pra família.
O crime contra mulheres aconteceu num distrito próximo de Dili, nas montanhas. Duas velhinhas, paupérrimas vendedoras de frutas, foram subitamente taxadas de bruxas pela vizinhança (aqui existe isso de bruxa voadora e perigosa, casa sagrada que ninguém chega perto, ninja assassino e molestador de criancinhas). Outras pessoas idosas teriam adoecido por culpa das velhinhas. Um grupo de moradores do bairro se reuniu, encheu a cara com tua sabo (um destilado local) e decidiu eliminar as indesejáveis feiticeiras. Armados com martelos e catanas (facões), chegaram de madrugada e feriram gravemente as duas mulheres. Supondo morte certa, foram embora. No dia seguinte, descobriu-se que as vítimas tinham sobrevivido à brutalidade. Um mês depois, os vizinhos, certos de que se não concluíssem o trabalho sua casa seria amaldiçoada para sempre, retornaram e liquidaram a catanadas as duas senhoras. Queimaram os corpos e, não satisfeitos, os enterraram de ponta cabeça. Afinal com bruxa não se brinca. Se elas revivessem, cavariam pra baixo.
Um verdadeiro filme de terror.
Um verdadeiro filme de terror.
Cruz credo!
ResponderExcluirEu que achei que já tinha visto de tudo.
Abraços
Ei Tânia! Você podia vir pra cá para me ajudar, porque a coisa está feia...rs. Um abraço!
ResponderExcluirÉ impressionante como a realidade desafia a ficção! Você está fazendo exercícios de antropólogo, heim Cirilo? Texto descritivo, nada de juízos de valor. Gosto muito, além disso, do seu modo de escrever. Mudando de assunto, que surpresa maravilhosa encontrar a Francielle na sombra da mangueira. Fiquei toda feliz! Seja bem vinda, a sombra é toda sua, Francielle.
ResponderExcluirBeijos para todos, Cirilo, Alice, Dodora e Francielle.
Beatriz
Parece que ainda vivem na Idade Média...
ResponderExcluirEi Beatriz! Muito obrigado pelo elogio. Ser defensor em Timor Leste exige estômago de aço e alta dose de tolerância. Aqui os antropólogos e sociólogos se esbaldam.
ResponderExcluirA Fran é companheira dessa vida louca timorense. Já viu muita esquisitice também. Beijos!
Mãe, não há dúvida de que o povo timorense, principalmente o que mora fora de Dili, ainda conserva costumes tribais. Beijão e obrigado pela correção.