Saímos de Dili no dia 29 de outubro, aproveitando o feriado prolongado de finados, para conhecer lugares menos populares da Indonésia (cruzamos por terra a fronteira com o lado oeste da ilha de Timor, fomos a Kupang e de lá voamos para a Ilha de Flores, cuja população é quase inteiramente católica). O interessante de rodar doze horas numa van (chamada aqui de mikrolet) por estradas sinuosas e esburacadas, comer pescoço de galinha com arroz sem gosto e moela dura e tomar banho de caneca é ter a chance de conhecer a realidade de um país (glamurizado por conta de surfistas australianos).
O povo indonésio que vimos é fisicamente idêntico ao timorense. E a miséria também é parecida. Depois de ver aquela quantidade de gente paupérrima, pedintes e mendigos, me dei conta de que minha antipatia pelo indonésio é injusta. Deveria ser canalizada para o exército daquele país, que é imenso, tem autonomia e esmaga a liberdade de expressão. Basta uma volta rápida pela Indonésia (não me refiro a Bali, evidentemente, porque essa ilha não representa a realidade social e econômica do resto do arquipélago, já que a miséria dos habitantes é camuflada) para notar o indisfarçável ar de intimidação que emana dos órgãos de segurança. Cruzamos a fronteira do Timor Oeste a pé, carregando mala. Mostramos nossos documentos quatros vezes, duas de um lado, duas do outro. Sempre sob o olhar atento de um guarda armado.
Em Bali, conversando com um simpático taxista (coincidentemente nascido em Flores), não pudemos deixar de notar que quando ele se referiu ao Timor Leste e ao período de ocupação indonésia, as palavras usadas foram: "nos anos em que Timor SE ANEXOU à Indonésia (...)", como se a iniciativa tivesse sido do povo timorense, quase um mal agradecido por não querer manter-se anexado ao vizinho poderoso. Invasão, ocupação ou anexação, tudo é questão de ponto de vista.
Que saudade da carne moída com quiabo e angu do Maleta, nos velhos tempos do Promove... Tenho ou não razão?
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